sábado, 26 de dezembro de 2009

Que natal que nada, viva os 6 meses! =P

Quem me conhece ao menos um pouquinho sabe: eu não sou cristã, não acredito num deus único e não me envergonho disso, muito menos me vanglorio. Em contrapartida, também rezo (do meu jeito e sem textos prontos e decorados), vou à Igreja se a intenção for válida e sincera, respeito os credos alheios e sim, comemoro o natal, mas de um jeito mais peculiar.
De qualquer modo, isso não é um post sobre religião. É mais sobre como, ao nos condicionarmos, conseguimos mesmo mudar coisas ao nosso redor que precisam ser mudadas. É como dizem, quando queremos algo com fervor e mentalizamos positivamente, o universo conspira a favor. Por isso, não acredito em "milagres de natal", mudanças repentinas graças ao "espírito natalino" ou outras manifestações do tipo. Não, uma data em si não é capaz de mudar nada nem ninguém (mesmo os que fingem mudar só porque "é natal").


Então, agora que o tal natal passou e todos podem parar de fingir e voltar a ser o que foram o ano todo, digo que uma mudança ocorreu em mim. Hoje é meu aniversário de namoro, 6 meses (dos quais quase 5 se passam à distância física do ente amado). Vou explicar a relação. Todos sabem da dificuldade que é, além de levar um relacionamento a sério, fazê-lo a milhares de quilômetros de distância, com a esperança de um futuro (já mais próximo) de união espacial novamente. Vem sendo bem difícil, para ambos os lados, adaptar formas de demonstrar amor, conciliar horários, depender da boa vontade da conexão da internet, economizar pra comprar cartões telefônicos que não duram 10 minutos... A dificuldade parece não ter fim e piorar cada vez mais. Mas é justo o contrário, agora.
Acordei com a sensação de que nunca pude ser tão livre numa relação quanto agora. Se, por um lado, a distância física parece minar possibilidades de realizações, por outro, exige de nós tantas novas estratégias, habilidades de driblar o desconhecimento do cotidiano em prol de um sentimento muito maior, que me sinto tão à vontade para ser eu! Hoje, quando comemoramos 6 meses de um relacionamento maduro e prazeroso, percebo o quanto somos felizes em termos um ao outro, do jeito que podemos, e o quão menos desesperadora a espera se torna.
Óbvio que discussões, mal-entendidos, conflitos mal-resolvidos, atropelos acontecem todos os dias. Não somos ingênuos a ponto de culpar a distância por isso. O bem querer tem disso, e sem debates não se cresce, já me convenci disso. O cerne de tudo isso é que, em meio a confusões e carinhos desmedidos, redescobri quem era e me despi das máscaras que ainda guardava. Hoje, terminando a celebração do solstício de verão, percebo o quão iluminada se tornou novamente minha vida, e o quanto isso é devido ao meu "demônio amado".


Meu candeeiro encantado, companheiro de luz eterna, incessante, abrasadora, amigo de explosões de risadas e silêncios, fonte mútua e recíproca de força, eu precisava dizer: foda-se o natal e as tradições inventadas! O melhor desse ano foi te receber na minha vida! *_*


E por estar feliz (mesmo que não pareça tanto, mas deve ser o maldito sono/ressaca de natal =P), posto uma música do tempo em que eu dançava no escuro, ao redor da fogueira, despreocupada com o inferno ao meu redor. Já posso dançar de novo! :D

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Do cineminha à tarde...

Ando me interessando mais que meu normal por cinema. Não que eu não gostasse antes, mas descobri que cinema é uma opção barata em Porto Alegre. Tenho salas de exibição próximas a onde moro e com produções que realmente me interessam. Salvo os pseudo intelectuais de sempre, são circuitos bem frequentados ou quase vazios, o que não deixa de me agradar, e às vezes me entristecer: salas confortáveis, ótimas películas e pouquíssimo público.
Há momentos em que meus livros não são mais suficientes e acaba o dinheiro para comprar novos. Não há muito o que se estudar se o resultado para o mestrado ainda não saiu. Não há muito o que ver na internet se o computador não ajuda (nem a vista cansada). Enjoei de minhas músicas, das pessoas, das conversas...
Então o melhor é rumar para o cinema, sozinha mesmo, ou em companhia extremamente seleta. Depois um chopp ou um sorvete. Programa bobo mas tão agradável que quase esqueço da irritação que me espera quando voltar ao mundo real.
Sorte que na outra semana tem sempre um filme novo me aguardando. :)

sábado, 5 de dezembro de 2009

Agora são quatro meses... Alguém aí sabe de que?

Acordei numa casa que não era minha. E eu lembro de tudo e, melhor, não me arrependo de nada.


Passei a comemoração de meus 4 meses em nova cidade rodeada de cachorros, comendo pizza, deitada no chão, vendo filmes madrugada adentro, na casa de uma amigA. Sim, eu fiz uma amiga em Porto Alegre e aproveitei que ninguém se lembra dessas datas que me são tão importantes para fazer programinha caseiro que há muito não fazia. Conheci a família, fui bem tratada (e sem falsidades), almocei junto no outro dia e me deixaram de carro em casa. Tipicamente, um programa de amigas.


Eu gostei. Muito, até, pra uma pessoa que torce o nariz pra tudo, como eu. :D


A parte ruim de tudo isso é chegar em casa e perceber que ninguém mesmo se lembra da data de hoje, e que as pessoas de quem se sente falta sequer notam que eu não estou mais lá. Demonstrações de afeto, é disso que ando sentindo falta. E antes que alguém diga que estou virando emo, proponho que se isole do convívio dos seus e teste por quanto tempo suporta a solidão sem se queixar.


Mas não estou aqui a escrever pela queixa. É mesmo pelo agradecimento. Quando eu já pensava que seria mais um mês esquecida, deprimida em frente ao monitor do PC, remoendo as discussões todas da semana (e que não se resolvem), alguém vem e me tira de casa, me faz assistir History Chanel com cachorrinhos no colo, me presenteia com conversas agradavelmente intermináveis e me faz até acordar sem mau humor. É, Carol, o post dos 4 meses em PoA é pra ti. :)


(Agradecimentos finais: Carol, mnha vida tem se tornado muito mais fácil aqui desde que nos encontramos, sabia? Ainda mais com nossas "coincidências incríveis" =P Obrigada, mesmo mesmo! ^^)

sábado, 28 de novembro de 2009

Bobagens Blogueiras ? Não, troca pra "Sábado de Sol"! =P

Acordei com vontade de escrever, como há muito não sentia. Semana cheia, sentimentos aflorados, os melhores e os piores. Mal consegui me suportar e sei que também foi difícil para os pobres mortais que insistem em me acompanhar. Inclusive, devo um agradecimento sincero a vocês, vocês mesmos que sabem muito bem quem são, por isso não preciso nomear. Sintam-se abraçados (mas sem suores pegajosos, por favor).
Voltado à vontade de escrever. Acordei com vontade de escrever, como há muito não sentia, foi o que eu disse. Ontem à noite, no entanto vi umas besteiras tão absurdas que hoje, ao lembrar delas, a vontade de escrever transformou-se em receio. Por isso, esse poste é em homenagem às bobagens blogueiras.
Eu pretendia agora discorrer sobre pelo menos cinco tipos de blogs e seus posts inaceitáveis, mas... perdi a vontade. Pensei que teria mais graça quando eu estivesse de mau humor de novo, e essa manhã estou incrivelmente feliz. Não que eu perca o senso crítico quando me alegro, longe disso! Apenas quero curtir um pouco mais os minutos contentes, afinal, acordar sem mau humor é tão raro quanto borboletas pousando em minha janela!
Sendo assim, as bobagens blogueiras ficam pra depois. Momentinho piegas da liga psicodélica do amor agora. Se não gostou, não leia, simples assim. :) 



Musiqueta feliz para momentos felizes, principalmente fins de semana. :)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

(Não)Querência

Não, eu não me importo com minha "produção literária". Não quero escrever sem parar só para me sentir meramente produtiva. Para satisfazer meu ego. Ou para satisfazer quem acha que escrever todo dia aqui significa "duelo de blogs e competências intelectuais".
Não, eu não me importo. Não enquanto a chuva cai abundantemente lá fora e eu estou protegida, seca e intacta aqui dentro. Não enquanto o Sol é escaldante ao meio-dia e estou confortavelmente sob a sombra do meu teto de temperatura amena. Não enquanto minha vida corre nas ruas lá embaixo e eu continuo aqui, vendo-a correr sentada no parapeito da janela do sétimo andar.
Os dias passam, meses até. Planos, projetos, conflitos, questionamentos, vicissitudes da vida "pós-contemporânea" e abusos da inércia de uma vidinha tipicamente classe média. Copos de coca alternam-se com batatas fritas. Em meio a isso, ilhas de livros. Conversas intermináveis. Amores. Eternos. Discussões desmedidas. Humores descontrolados. Reflexões antes de dormir. Abraços e cheiros no cachecol de Jah. Tristeza, alguns poderiam dizer. Saudade, talvez. Mas eu diria apenas que deixar-se sentir na medida certa é o melhor aprendizado possível, e um dos únicos para o qual nunca se chega ao final do curso.





O que mantém esse blog vivo? Quem o lê ou quem o escreve?
Nada disso mesmo importa. Não enquanto não termina o momento de contemplação.
E a vida segue seu curso para que eu a contemple. Antes a minha que a dos outros. ;)

domingo, 1 de novembro de 2009

Bobagens cinéfilas

Tá, é início de novembro, penúltimo mês do ano, que está chegando ao final, eu deveria seguir meu costume de falar minhas impressões para o mês, ou fazer o balanço de outubro, ou até contar algum fato corriqueiro dos últimos dias.
Ontem, no entanto, um pensamento que há anos não me passava pela cabeça voltou, com uma ajuda da minha irmã caçula que (eu nem sabia) tinha o mesmo pensamento que eu: "por que aquela gorda espaçosa não cedeu lugar na porta pro Jack?". Esse é o pensamento tema da nossa noite de Halloween.
A "gorda espaçosa" era a Rose (interpretada pela Kate Winslet) de Titanic. Impressões gerais sobre o filme (que, na época, tive de ver no cinema pra levar a irmã do meio e, mesmo não sendo o supra-sumo do senso crítico, achei uma choradeira só, valia só pelos efeitos, à primeira vista): Rose era uma ruiva farta de carnes, como era ainda padrão na época, mas do tipo "gostosa", não "gorda". Jack (encarnado no Di Caprio), o namoradinho pobre, era um garoto novo, do tipo normal, magro mas "com tudo no lugar". Eles juntos: Rose parecia muito mais forte que ele e Jack começava a parecer bem magrelo e frágil nas cenas a dois.
Parágrafo especial para a cena especial: todo mundo já viu pelo menos a cena do carro. Eles estão no "almoxarifado" do Titanic e entram num carro qualquer pra transar.Tá, e daí, eles estão com frio e querem se esquentar, nada mais apropriado que um carro antigo "chiquerésimo" num navio no meio do oceano. Amei a idéia. Mas eles encontram o carro, entram no carro e a próxima cena é uma mão escorrendo pelo vidro da janela do carro que, por sinal, está toda embaçada (que nem espelho do banheiro quando se toma banho quente). Se era pra aquilo parecer sensual e mostrar que a volúpia do casal aquecia a tal ponto o carro que as janelas embaçavam, tudo que eu conseguia pensar era numa cena bem horripilante de assassinato com aquela mão escorrendo desesperada pelo vidro. Pensei, mesmo sabendo que não poderia ser: "um matou o outro!". O detalhe é que não sabia quem tinha matado quem, mas quando o take mostra os dois no interior do carro penso, com certeza (mesmo sabendo que aquela mão no vidro era dela): "se a Rose tava por cima, entendo o desespero dele tentando sair pela janela".
Claro que a idéia vai se aprimorando ao longo daquelas horas intermináveis do filme interminável, mas, já depois do naufrágio, quando eles procuram onde se refugiar, encontram uma porta boiando na água. Mas não é uma porta qualquer, é daquelas portas antigas, imensas, super resistentes, madeira de lei e tudo. Aí Jack manda a Rose subir na porta e fica na água congelante. Eu penso, de cara: "mas que gorda espaçosa, essa porta é imensa, é só afastar um pouquinho que o magrelo do Jack sobe aí também!". Mas não, ela não se afasta, e ainda deita toda esparramada sobre a porta enquanto o coitado do namoradinho pobre e magrelo da ruiva rica e gorda morre de frio. Conclusão: Jack morre porque Rose era uma gorda espaçosa que não se dignou a arredar um pouquinho pro lado pra salvar o namorado.
Fim de análise. Bom novembro a quem ainda lê esta coisa que eu chamo de blog. =P

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A ti, no quarto.

Eu sei que eu deveria escrever algo "bonito" hoje, mas não quero.
Sei que deveria estar plena de sorrisos, mas não consigo.
Estou nervosa, preocupada, ansiosa.
Cheia de tarefas e receios,
Estou sempre, pouco sou.
E sei que não deveria estar, mas estou.


Felicitações? Sim, sempre.
Comemorações... do jeito que podemos.
Façamos do improvável nossa morada.
Sejamos apóstolos do impossível.
Ou nada, não precisamos de nada.
Nada a dizer ou mais fazer:
A certeza que nos consome deve bastar, por hora.
É ela que nos acalma, quando tudo ao redor parece ruir.


Liga do amor?
Luzes psicodélicas?
Que mais há de vir?
Tuas mãos em meus cabelos:
Apenas tuas mãos desejo agora.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Recesso e contemplação

O recesso textual parece imperar pelos blogs que acompanho, além de no meu. Não sei dos motivos deles e percebo um certo esforço dos outros em tentar romper essa abstinência de letras. Sei dos meus motivos, dos meus obstáculos, dos meus dias improváveis mas concretos, dos meus textos bailantes e fugidios.
Descobri projetos. Descobri obras que não mais lembrava existirem. Descobri novos saberes, novos gostos, novas frustrações e novas conquistas. Descobri, primordialmente, interesses e mudanças que até então não percebia.
Por isso, o recesso. Para análise, reflexão e contemplação. Contemplar o meu próprio dinamismo e dos que me cercam (e me fazem diferença significativa na vida); aprender a respeitar também a inércia, aceitar (não necessariamente concordar) o que me incomoda e me afastar quando me faz mal. Movimentos e silêncios também são dignos de atenção, mesmo dos mais singelos, até para pessoas impulsivas, elétrica e explosivas como eu.
Todorov, quando discursa sobre a alteridade, fala de três conceitos chaves: conhecer, amar, conquistar. Para os três, claro, há a negação ou antítese, mas cito Todorov aqui para demonstrar que estou nos dois primeiros conceitos nesse estágio de minha vivência. Identificar(-se), (des)conhecer(-se), (des)amar(-se), são verbos ativos e imperativos para mim, agora.
Porque eu vislumbrei meu passado e, nele, eu não me vi. E quando atentei para o futuro, vi-me como um outro ser que não era apenas eu, mas conjuntos de mim. Não entendi o que me restava de mim mesma no presente. E precisei parar para respirar, para não contaminar os outros com meus medos, inseguranças, desconfianças e tremores. Precisei despir-me do manto hipócrita da auto-afirmação, do destemor desmedido, do discurso mordaz e pré-julgador.
Momento de olhar para a árvore da qual me faço simples folha. O amor é a criação mais sublime da humanidade, porque não é justamente humano. E é a arma mais destruidora quando apropriada indevidamente por essa própria massa humana. Humanizar e amar não são sinônimos. Amar é muito mais caótico e muito mais mortal que qualquer invenção. E é, graças aos bons deuses (!), a única solução para a própria destruição.
E, se o que escrevo parece não fazer sentido, talvez seja porque não seja eu a única a precisar de um tempo a sós comigo mesma e o cosmos.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Explicações, referências e reflexões - Só a "liga do amor" salva :p

Em minhas andanças pelo mundo dos blogs e afins, deparei-me com um texto que quase achei ter sido escrito por mim. Embora eu não queira citar aqui referências, digo que a autora, "psicótica", no sentido bem humorado do termo, desculpa-se pela sua ausência de seu próprio blog. Prossegue dizendo que seus melhores textos são produzidos em seus piores momentos e, como está num período favorável, tem mais dificuldade de escrever.
Lembrei-me de uma amiga que, ao falar de seus e meus ex-namorados, dizia que algumas pessoas só se sentem realizadas quando tê uma dor a lamentar. Como se, paradoxalmente, só se fosse feliz ao sofrer. Isso porque esses rapazes em questão necessitavam deste "sofrer por amor" para imprimirem real sentido às suas vidas. Logo, quando tudo parecia ir bem, quase que se inventava um motivo para não prosseguir, justo para continuar o processo de sofrimento, lamentação, auto-piedade e insatisfação que os levava, inversamente, à plenitude de estarem vivos.
Não apenas uma vez escrevi aqui ou em outros lugares que, parafraseando Roberto Freire, é o amor e não a vida  contrário da morte. Quem não tem o que amar está morto, vaga pela superfície terrestre como um ser morimbundo, sem alma, um zumbi sem o apelo de necessariamente comer cérebros. E quando eu digo "amar" não me restrinjo à relação dual, de pares românticos ou enamorados, o amor é bem mais amplo que isso. Não me atenho também à necessidade que temos de também sermos amados, isso é mais complexo. Atento apenas para o fato de que (e aqui lembro minha irmã e os aprendizados que ela extrai do material oriental que lhe chega às mãos) quem tem a quem amar e proteger, embora torne-se suscetível e aparentemente fraco por isso, tem justamente um motivo para almejar sempre crescer, um sonho a perseguir e realizar, um porquê de continuar quando tudo ao redor parece desmoronar. Amar, sem pieguismo, é a plenitude de estar vivo (e sem ser simplista também, apenas sintetizando idéias).
Falei de tudo isso e, como sempre, alonguei-me demais e dei voltas sem fim para dizer que, se meus textos demoram a surgir nesta tela vermmellha, provavelmente é porque, além de estar sem tempo, a falta de idéias concretas em letrinhas amarelas possa significar um momento favorável de realizações para mim também.
Então, aos que se entusiasmam com os sobressaltos de febres alegres e que amam sem medo de parecerem ridículos, uma musiqueta (como não podia deixar de ser) para perpetuar a "liga do amor" constante em que me encontro. :D

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

De novo, sobre nada...

Não, eu não tenho nada a dizer. Muitas leituras, textos intermináveis sobre políticas públicas e ensino de História (e eu que sempre fui uma historiadora do social, me aproximando do cultural, agora me vejo na política...), lavar louça, comer de vez em quando... Os dias continuam bem frios, eu continuo com dores nas articulações e ossos de uma forma geral, meus dedos continuam congelando e leituras virtuais ou impressas continuam sendo minha principal fonte de ocupação.
Óbvio que eu poderia procurar outra coisa pra fazer. Eu poderia faxinar a casa em vez de apenas lavar a louça. Poderia produzir artigos científicos em vez de escrever aqui ou ler tantos textos acadêmicos. Poderia me alimentar corretamente em vez de fazer uma refeição por dia e beliscar tudo que não presta depois... Poderia não sentir tanto frio se "ele" estivesse aqui pra pelo menos esquentar minha cama (o sofá, que é mais confortável que a cama, sempre bom ressaltar) na hora de dormir.
Mas eu não faço além do meu querer, agora. Embora eu saiba que posso muito ainda, o tédio e a monotonia dos dias frios em consomem de tal forma que apenas o estritamente necessário é feito. Até que sinto vontade de variar, mas quando olho pela janela, lá se vai a motivação junto ao meu olhar perdido naquele cinza melancólico. E, mesmo nos (raros) dias de Sol, em que acordo com aquela idéia de "ah, que dia maravilhoso!", basta chegar até a sacada e respirar um pouco mais profundo que as narinas já começam a sangrar com aquele vento seco e malvado...
Isso não é, de forma alguma, uma reclamação ou arrependimento. Sim, eu já havia previsto dias intermináveis e sem cor quando me decidi, há um bom tempo, a morar nessa cidade e deixar pra trás tudo e todos em prol de uma nova vida. ("Deixar pra trás" no sentido de não mudar de idéia fosse o que fosse que ocorresse, não de abandonar pessoas queridas ou origens.) Mas, com todos os planos que se possa fazer, sempre há algo que nos escapa ao controle. E esse ócio está tomando conta de mim, conflituando ao máximo com a saudade que sinto "dele" (que sim, estava fora da minha equação e agora é mesmo o centro dela).


Como contraponto, os dias de solidão e monotonia me proporcionam maior tempo para reflexão. Para o surgimento de novas idéias. E para o conhecimento de muitas coisas que até então ignorava. E pra quem pensou que eu ia falar de costumes, comidas, povos e blábláblá pra bancar a chata da historiadora sócio-cultural, errou. Vou ser mesmo uma menininha super rasa e falar de música. Só deixar a sugestão, a quem interessar possa, de uma coisinha que achei nas minhas andanças virtuais da madrugada. Espero que apreciem e se não, azar, eu gosto e pronto! =P




sábado, 26 de setembro de 2009

Pirilampos textuais (?)

Sabe aquela impressão de que as melhores coisas acontecem justo quando não se espera ou não se pode aproveitar? Meus melhores textos me surgem justamente quando deito no sofá e me enrolo no edredon (é, eu prefiro dormir no sofá que na minha cama). Eu passo a noite escrevendo, aí uma bela hora desligo o computador, apago as luzes, me aninho confortavelmente no sofá com o elefantinho e a aranha de pelúcia (o Gog e a Spine), mais o cachecol de Jah enrolado nas mãos, tudo isso envolvido no edredon de florzinhas verdinhas e amarelinhase fecho os olhos. Pronto, lá vem aquelas letrinhas voando e piscando como pirilampos ensandecidos em volta à minha cabeça.
Não adianta pedir pra irem embora ou esperarem até de manhã. Eles ficam lá e, mesmo que eu durma, invadem meus sonhos. De manhã, entretanto, no máximo consigo reunir pirilampos suficientes para construir uma frase. Uma frase. De um texto de umas 30 linhas só me resta uma frase. E o que fazer com ela, usar de subnick no msn, postar no twitter, transformá-la em título de post no blog e tentar desenvolver um texto? Não, nada funciona, é uma frase nascida única e exclusivamente para martelar na minha cabeça o resto do dia e tentar lembrar dos sonhos ou do texto. Claro que não lembrarei de nada, mas a frase continua lá.
Seguindo essa lógica, estou com um nome a me perseguir por toda a semana já. Não conheço ninguém com esse nome e nem me recordo de nenhum personagem importante com tal título. Mas o nome está comigo. Até quando, não sei. Quem sabe até eu escrever um texto pra ele...


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Clicks:
-Terminei com meu namorado que mais durou num dia 26.
-Comecei o namoro com meu namorado mais querido num dia 26.
-Comecei a melhor relação da minha vida (com meu atual namorado) num outro dia 26.
-Hoje é nosso aniversário e eu não consigo fazer um texto pra ele nem pra data porque, obviamente, os pirilampos se apagaram de manhã. =/
-Essa noite tento agarrar os pirilampos e ponho-os pra dormirem comigo também. :)



quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Let's watch the flowers grow...

Primeiro dia da minha terceira primavera. Flores surgindo nos galhos secos das árvores desfolhadas, dias ensolarados, bichinhos copulando e coisinhas fofinhas por todo canto. Certo?
Errado. A primavera chegou com uma chuva torrencial. Acordamos com aquele vento congelante bem invernal. Mas, com o pensamento positivo de que a primavera já havia chegado, fomos cada qual pra rua cuidar de seus afazeres, na esperança de que o dia "melhorasse". Fui a última a sair de casa, já na hora do almoço, preparando-me mais para o vento que para o frio mesmo. Mal ponho o pezinho na calçada e chuva. Ah, não ia subir só pra trocar de roupa ou procurar um guarda-chuva que detesto. Segui para a universidade.
A chuva aperta. Eu não ligo, sempre andei na chuva... É, mas na minha cidade não faz frio quando chove e os dedos não congelam... Tudo bem, a universidade é pertinho. A cólica que me acompanhava desde que acordei resolve lembrar que ainda existe. Eu insisto, aperto o passo e chego à universidade, finalmente. Nenhum preparativo para o show de jazz ao ar livre que eu fui assistir. Claro, só eu imaginei que teria um show de jazz ao ar livre debaixo dessa chuva. Melhor esperar os membros da família aparecerem pra almoçarmos.
Restaurante número 1 lotado. Partimos para o segundo dentro da universidade. Tem lugar, mas a comida é cara. Sem condições de tentar o RU, a fila dobrava o quarteirão mesmo debaixo da chuva. Senta e come só um pouquinho da comida cara, pra não perder a viagem. Tá, e agora, como vai até a cópia procurar os textos da próxima aula? Melhor voltar pra casa com a mana...
Chega em casa e se enfia embaixo do edredon. Frio, cólica, dor de cabeça. Mas que bela primavera... Ainda espero pelo quadro das minhas primeiras primaveras!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Deveres Cívicos


O Sete de Setembro nunca significou muita coisa para mim além do que os meus estudos históricos apontavam. Quando penso que o ensino de história foi inserido no cotidiano escolar justamente para formar um espírito de identidade nacional e amor à pátria, estarreço-me mais ainda com minha apatia frente a essa data comemorativa, como diante de diversas outras datas. Feriados, festas pré-estabelecidas e esses cortejos nada mais são que tradições inventadas e desculpas para não trabalhar e gastar dinheiro, certo?
Certo, até deparar-me ao Vinte de Setembro. Não querendo ser bairrista e reconhecendo que uma grande parcela pensa diferente, o senso comum aceita que gaúchos não se sentem brasileiros, são bairristas sim e cheios de "gauderismos". Não vejo nada de errado com o senso de pertencimento a um local ou enaltecimento e ufanismo local, embora desconfie de todo e qualquer exagero. O que vejo de no mínimo perigoso é um sentimento regional que ultrapassa o nacional a ponto de suplantá-lo sem dó nem piedade. E é o que vejo aqui. São riograndenses antes e acima de brasileiros (quando são brasileiros).
Voltando ao 20. Comemoração da Revolução Farroupilha. Não precisa ser nenhum historiador ou grande estudante pra saber que foi uma briguinha de proporções absurdas pelo preço do charque. Considerando que, naquela época, apenas uma elite poderia consumir carne e que charque era uma carne nobre (por durar mais tempo sem estragar e tal), a grandiosa "Revolução Farroupilha" foi uma revoltinha elitista de filhinhos de papai tolos e birrentos. Claro que a partir daí assumiu um caráter político e blábláblá, mas que começou assim, foi mesmo.
1º questionamento: Por que os conflitos da elite se consagram como "revoluções" e os das ditas  "classes populares" (entendendo-as no sentido mais leigo e comum de "povo") são "revoltas, motins e levantes"?
2º questionamento: Se me revolto com a falta de senso de nacionalidade dos gaúchos, por que eu mesma nunca demonstrei nenhum civismo no 7 de Setembro? ("Grito dos Excluídos" não conta, porque mesmo sendo um "civismo às avessas", ainda assim não me inseri por mais que uma vez e meia)
3º questionamento: Por mais que me sinta belemense, paraense, amazônida, brasileira, latino-americana, não carrego comigo tais simbolismos justo por entender que o senso de pertencimento é subjetivo. O contato com o outro gera o afloramento do tal senso e a necessidade de autoafirmação frente à otridade. Mas eu não sinto. E agora?

Mesmo que eu não entenda o sentimento dos gaúchos (e não só deles, já que passei meu 20 de Setembro no Uruguai numa comemoração conjunta de Santana do Livramento-Brasil e Rivera-Uruguai), o desfile de cavalos e cavaleiros paramentados com seus trajes típicos e tudo mais é interessante de se ver. Enquanto é novidade, calro, porque depois parece tudo a mesma coisa, como qualquer desfile, de samba, de tropas, de marcianos e venusianos: quando a sensação de estranhamento e surpresa passa, com ela se vai o encantamento e a repetição torna tudo enfadonho. Achei bonito, no entanto, o sentimento das pessoas desfilando e das que assistiam. Registrei o momento com fotografias e coisas do tipo. Mas não descobri o meu lugar ali, nem em outro lugar. Cidadã do mundo? Talvez... 

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O nada e partes novas

Estava relendo meus escritos e, notando as datas, senti-me meio que na obrigação de escrever algo, depois de tantos dias... O problema é que não me veio idéia nenhuma. Sabe como é, aquele branco, ou aquele breu criativo, aquele nada pairando que, a qualquer momento, pode até vir-a-ser alguma coisa, mas até agora é mesmo só um nada? E estava lá eu, olhando aquele fundo vermelho outrora tão inspirador e não vinha nenhuma letrinha amarela brilhando como luzinha de Natal ao meu encontro...
Desesperador, eu diria. Se eu fosse uma escritora, dependesse disso pra viver (materialmente falando, tipo pra se alimentar, vestir, ter onde morar, etc.). Mas não, eu não preciso de nada disso. Acabei me pegando perdida de novo na velha questão da serventia de tudo isso: pra que diabos fico aqui a escrever, dia após dia, sobre tudo e/ou sobre nada?? E eu ainda não sei...
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A parte boa do tempo sem escrever aqui, pelo menos, é o contraponto. Muito tempo sem escrever, para mim, significa muito tempo lendo. Descobri que Porto Alegre pode ser uma cidade brilhante se se tiver tempo e vontade de procurar por boas leituras (e algum dinheiro sobrando, que mesmo não sendo muito caro, sempre queremos levar mais de um livro...). E sim, estou feliz em morar aqui. \o/
Não há nada mais satisfatório que se deliciar com os textos obrigatórios e escolher livros em sebos pela cidade... Decididamente, escolhi bem meu novo lugar pra morar...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Querido blogspot

Meu querido blogspot,

Eu não costumo reclamar a todo instante das peças que costumas me pregar, mas dessa vez achei que era meu dever relatar o que vem ocorrendo. Isso porque outras pessoas vieram se queixar de um problema que eu nem sabia que acontecia! Resolvi apurar os fatos e constatei o que não queria: sim, as pessoas estavam cheias de razão.
Ocorre que muitos dos comentários que me escrevem aqui não são postados e, como se não bastasse, são sumariamente apagados, deletados, exterminados do plano virtual. Agora, imagine só, a frustração de produzir um texto bem elaborado, mandar uma mensagem de agardecimento, retribuição, conforto, congratulações, ou mesmo apenas mostrar que acompanha meus escritos e, depois do trabalho pronto, ele não aparecer no post e ainda sem possibilidade de recuperação! É muito cruel, blogspot, não achas?
Eu não sei porque estás fazendo isso ou se tens noção de que isso vem acontecendo já há algum tempo. Mas espero que, pela amizade de longa data que temos (contando blogs vivos e mortos, lá se vão quase 3 anos), possas rever e remediar tal probleminha, que, inclusive, muito me incomoda. Ou ao menos se desculpar, como um bom amigo, reconhecer o erro e se esforçar para que não se repita.
É o que eu, como amiga e aprendiz de escritora que me julgo ser, peço a ti, encarecidamente. ^^

sábado, 5 de setembro de 2009

Primeiro mês

Hoje faz um mês que mudei de cidade, de vida, de planos, de clima, de futuro, de presente, de roupas e costumes. Um mês que mudei de tudo, menos de mim, de endereço virtual e dos amores que deixei lá em outro lugar, um mês atrás.

O que dizer sobre isso? Nessa exata hora, eu estava ainda esperando meu avião pra Porto Alegre, no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, dormindo na capela. É sério, eu buscava silêncio e um lugar pra ficar em paz com meus pensamentos, mas aqueles bancos da capela eram tão mais confortáveis que encostei na mochila e cochilei, abraçada com meu querido cachecol de Jah.

Repassava todos os novos planos, mentalmente, lia e relia a passagem, acariciava o cachecol e pedia aos deuses que não me decepcionassem. Acho que estou sendo, na medida do possível, atendida.


Ela e eu, na vinícola Almaden, sempre juntas, mesmo no cansaço, sob Sol e vento, com uvas e chocolates, com chatices e risadas, textos e musiquetas. Meu maior presente na vida nova. ^^

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Do amor

Por muito tempo, eu, na busca incessante de ser um fake de mim mesma, usando uma máscara que julgava ser inquebrável e uma armadura intransponível, esquivei-me de falar do amor. Primeiro porque do amor se tem o sentir, não o falar. E se não o conheço, não tenho do que falar. Depois porque, de tanto sentir, não mais sabia se tudo aquilo tinha sido ou não amor, ou afinal, se o que eu sentia como amor, fosse por quem ou o que fosse, fora algum dia o que eu mesma entendia a cada novo dia enquanto amor.
Percebi que meu pensar e meu sentir, quando extremamanete racionais, tornavam-se antíteses, e não movimentos dialéticos, como imaginava serem. Que o que eu professava não era o que sentia verdadeiramente e que o que eu dizia acreditar não passava de palavras vãs se eu não podia demonstrar.
Por alguns anos, longos anos, meu livro preferido foi Do amor e outros demônios, de Gabriel Garcia Marques. Um dos meus autores preferidos de todos os tempos, Roberto Freire, sempre falou do "amor libertário", com o qual me identifiquei à primeira vista, já que sempre tentei viver nos pressupostos da "revolução pelo amor". É bem verdade que, revestida de minha falsa insensibilidade, fruto de muitos desgostos e desprazeres, não se podia perceber claramente o quão clamadora de amor me fazia. Mas percebi que, há tempos meus modos brutos não enganavam mais ninguém e deixei que o amor se fizesse verdade em mim. Por isso, segue abaixo um texto com o qual muito me identifiquei, de autoria do Moska.
"Não falo do amor romântico, aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento. Relações de dependência e submissão, paixões tristes. Algumas pessoas confundem isso com amor. Chamam de amor esse querer escravo, e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida, explicada, entendida, julgada. Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro, antes de ser experimentado. Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado. O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita. O amor é um móbile. Como fotografá-lo? Como percebê-lo? Como se deixar sê-lo? E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta? O amor é o desconhecido. Mesmo depois de uma vida inteira de amores, o amor será sempre o desconhecido, a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão. A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação. O amor quer ser interferido, quer ser violado, quer ser transformado a cada instante. A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto, decidimos caminhar pela estrada reta. Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos, e nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim. Não, não podemos subestimar o amor não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico. Não é meu coração que sente o amor. É a minha alma que o saboreia. Não é no meu sangue que ele ferve. O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito. Sua força se mistura com a minha e nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha. Como uma aurora colorida e misteriosa, como um crepúsculo inundado de beleza e despedida, o amor grita seu silêncio e nos dá sua música. Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do amor, se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço. E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo, me aventurando ao seu encontro. A vida só existe quando o amor a navega. Morrer de amor é a substância de que a Vida é feita. Ou melhor, só se Vive no amor. E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto."
*E esse texto dedico à minha querida Mallu, que entende o amor tão livre e belo quanto eu.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Adeus, querido inferno astral!

Coisas demais acontecendo, numa velocidade assustadora.
Desde o último post, briguei com o namô (sério, quase desisti), minha irmã do meio chegou em casa pra passar uns dias, passei a dormir no sofá, mamí chegou de Sampa, fui pra fronteira do Brasil com o Uruguai, compras, doces e paisagens exóticas, fiz aniversário em solo estrangeiro, voltei pro Brasil, fiz as pazes definitivas com o namô, comprei livros e textos novos pra estudar mais, assaltaram meu apartamento, levaram meu "velho sarado" e o "freddy" da mamí (nossos notebooks), doces, comésticos (ladrões metrossexuais?), a câmera fotográfica que minha irmã ganhou de aniversário, jóias da irmã menor e o dinheirinho dela, a irmã foi embora de volta e eu prestei depoimento pra brigada e pra PM.
Nem chorei. Pensei que dinheiro se consegue trabalhando de novo, bem como as coisas materiais que se foram. O trabalho de uma vida toda que tava no note... Bom, vou torcer pra encontrar em algum backup. As fotos e lembranças... Tenho sorte de ter boa memória e lembrar de tudo que me foi bom.
E agosto se foi. Com um susto e algumas perdas, é verdade. Mas, com tudo isso, pensei em como minha vida sempre transcorre assim, intensamente, escorrendo e arrasando tudo como lava de vulcão. Em como, em um quarto de século, já vivi mais que muita gente madura e, com certeza, aproveitei bem a vida. E em como, apesar da velocidade absurda em que vivo e de, às vezes, sentir que preciso desacelerar e respirar mais fundo, continuo torcendo pro ano acabar logo e 2010 chegar de uma vez, que eu quero logo começar uma vida verdadeiramente nova, com o namô aqui comigo, eu no mestrado oficialmente e trabalho estável. Desejem-me sorte e boas vibrações. :)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Como era bom meu arraial...

No início, era o trabalho. Correria, gritaria, broncas e desentendimentos. Depois o companheirismo, exacerbado, os momentos de descontração, as horas fazendo planilhas, inscrições, arrumando pastas, comendo fora de horário, sempre correndo, mas agora com uma leveza. E, com todo o cansaço, a vontade de trabalhar juntos no outro dia não nos deixava em paz.
E tinha a História, nossa querida e amada esposa, paixão primeira e inquestionável. Com ela, as discussões, as risadas, o carinho e a compreensão, em meio a tantas desavenças e desabafos.
A imagem abaixo é fruto do primeiro momento em que realmente nos vimos entrelaçados, irremediavelmente unidos. E tem sido assim, desde então. Parceiros, amigos, cúmplices e amantes. Entusiastas e idealistas, viajantes sem rumo certo, sonhadores tenazes e obstinados.
Parabéns a nós, que arriscamos e acertamos, numa época em que não parecia tão correto se permitir demonstrar o gostar. Que venham muitos dias mais e, de preferência, ao lado um do outro novamente.

domingo, 23 de agosto de 2009


Descobri que História é muito mais que uma paixão na minha vida. Que Educação, se aliada à História, pode ser uma ferramenta prática e interessante de verdade. E que a Antropologia e mesmo a Sociologia não são tão ruins quanto parecem, se não se sobrepuserem à História.

Entendi, acima de tudo, que minha vida não é nada sem que eu produza textos. Que "intelectuais orgânicos" (res)surgem também do tédio e do ócio e não somente da observação, indignação, questionamento, reflexão e blá-blá-blá. E que eu realmente nasci pra ler e escrever, antes de qualquer atividade.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Das crônicas do meu primeiro inverno - Tentando ser menina

Entrevista de emprego. Quer dizer, não é bem um emprego, mas é algo do tipo, uma "bolsa-tutoria". Não, não vou explicar como funciona, mas pode ser entendido como um emprego mesmo. Hoje, às 14h30. Sala 809. Na própria faculdade que pretendo cursar.
Li e reli o texto que enviei como "carta justificativa" pra me candidatar à vaga. Uma só pra sei lá quantos. Quer dizer, depois eu soube quantos, mas isso não interessa. Como eu dizia, eu li o texto umas doze vezes durante a manhã. Lia, falava com alguém no msn, baixava um CD e lia de novo, depois lavava louça, ia ao banheiro e lia de novo... E foi assim, até umas 12h30 quando li pela última vez. Pra que ler tanto, nem eu sei, já que era um texto meu mesmo. Acho que só precisava estar mais segura das minhas idéias. E também eu estava com aquela imagem cristalizada de perguntas-fórmulas prontas do tipo "por que você quer trabalhar conosco?" ou "como você pode ser útil à nossa empresa?" ou ainda "por que Porto Alegre?".
E então, depois de ter lido as doze vezes, fui procurar o que almoçar (e lembrei que não tinha tomado café, de novo). A irmã chega da aula, finalmente, "não preciso mais almoçar sozinha", penso; coisa que detesto mesmo é comer solitariamente. Esquento o almoço que mamí deixou pronto enquanto a mana faz suco de laranja na cozinha. E aquele barulho infernal do "juicemaker" ecoando na cozinha. E eu gritando pra tentar continuar o meu relato da conversa de ontem com o namô. Os vizinhos devem pensar que nosso apartamento virou algo semelhante a um hospício depois que cheguei, mas não tenho culpo se sempre me descontrolo no tom das gargalhadas ou nos ralhos com a mana justo na cozinha.
Almoço calmamente e termino como previ, às 13h30. Estou no horário. Aí começa a pior parte. Com que roupa eu vou? Tudo bem, sem pânico, escolher calcinha, meia-calça e jeans é bem fácil. Com isso em mãos, parto para o banho. Depois de me enxugar sem muita pretensão de ficar perfeito, vou até a sacada para sentir o clima e escolher a parte de cima da roupa. Não é propriamente frio, mas tem um vento um pouco forte demais pra não usar uma camisa de mangas compridas por debaixo do casaco. Fecho a sacada e visto uma camisa nova. Ridícula eu fico, parece que estou pronta pra dormir, mesmo com a calça jeans. Calço as botas de bico mais fino e salto quadrado, elegantemente pretas e longas. Claro que melhorou, mas nem botas de cristal melhorariam o ar de desleixo daquela blusa. Visto uma blusa azul-feliz-quase-escuro. Agora sim, até a irmã aprova.
Passado o problema da vestimenta, tem o cabelo. Meus deuses, por que o cabelo tá parecendo uma palha de milho ressecada justo hoje? E por que esqueci de tingir? Como vou me apresentar com um cabelo metade castanho-ruivo metade rosa-vermelho-água-de-salsicha? Pensa, pensa... tentar desatrapalhar é o fim, vai virar uma vassoura ou um leão dragqueen. Já sei, um coque bem apanhado, no alto da cabeça, com uma certa elegância até (se não fosse essa minha cara de moleca nerd), com um hashi desenhadinho enfiado no alto. A idéia é ótima, agora quem executa? Seis tentativas, seis! E o tempo passando... Depois da porcaria do coque cair cinco vezes, na sexta ele parece estar mais seguro e poucos fiapos rosa-choque escapam dele. Mas e esses filhotes na frente que parecem uma farofa torrada? Passa creme, anti-frizz e todas essas melecas. Ótimo, o cabelo tava seco, agora ficou tudo branco. Passa a toalha pra tirar o excesso, com cuidado pra não desarmar o coque! E a irmã morrendo de rir na porta do banheiro... Certo, o cabelo ficou no lugar, os filhotes também, mas parece agora que tô cheia de caspa com esses pedaços brancos, vai ser ótimo, uma tutora caspenta! Ah, que se dane, não mexo mais no cabelo, tá lindo e acabou!
Tem que fazer maquiagem. Meu olho direito tá só alergia, com a pálpebra superior vermelha e inchada. Como disfarça isso? Eu, muita afeita a cosméticos e truques de beleza que sou, claro que não sei de nada. Tem uma sombra em creme que às vezes uso quando quero disfarçar aquelas placas roxas... Tá, passo a sombra clarinha e pronto, dá efeito iluminador e nem dá pra ver que tá vermelho. Só que eu passo um quilo de sombra sem perceber e pronto, lambuzo o olho todo e a sobrancelha. Agora me sinto a Rainha Monga treinando pra ser palhaça! Seria melhor usar pasta d'água pra pintar a cara de branco, não? Sério, eu consigo fazer as piores besteiras justo quando o tempo tá se esgotando. Tenta limpar um pouco com papel, mela logo o outro olho de vez, passa um gloss qualquer pra não ressecar os lábios na rua e pronto, já chega disso!
Minha irmã está tendo uma crise histérica de riso no corredor. Pergunto se estou bem o suficiente pra eles não rirem de mim como ela. Ela ri mais um monte, pede desculpa e diz que tá bom depois que coloco o casaco, arrumo a bolsa e guardo delicadamente o cachecol de Jah na bolsa. Ela pára de rir e pergunta "mas vais usar esse cachecol???". E eu "não, só vou levar comigo pra dar sorte, eu não sou louca de combinar azul-feliz-quase-escuro com as cores da bandeira do Rio Grande, né?". Pego a chave e vou pra rua, faltando quinze minutos pro horário marcado.
Piso fora do prédio e aquele vento maravilhoso, que só em Porto Alegre deve existir, com o poder de te fazer mudar repentinamente de humor, me recebe, estragando o cabelo, ressecando os lábios independente do gloss e fazendo arder o nariz (e eu torcendo pra não começar a sangrar de novo). Aperto o passo. As botas apertam os dedos junto, malditos bicos finos! Tudo bem, só são uns quatro quarteirões. E começa a chover! Mas que diabos que tudo acontece nesse dia!!! Respiro fundo, parada no sinal. Podia ser pior, eu poderia estar atrasada...
Chego ao prédio exatamente às 14h30. Espero o elevador até o oitavo andar e procuro a sala, nos corredores errados primeiro, naturalmente. Encontro a sala, finalmente! Pessoas simpáticas. Apresentações de praxe, primeiro os coordenadores, depois os candidatos. Eu sou a primeira, porque sempre tenho essa sorte de ser agraciada como cobaia. Não sei se consegui alguma coisa, mas aproveitei a oportunidade pra divulgar meu blog. Depois veio uma provinha escrita. Escrevo sem parar e sou a última a sair. Aproveito pra conversar com os coordenadores, faço propaganda da minha mamí melhor doutoranda da faculdade e explico o porquê de Porto Alegre. Eles sorriem, amigavelmente de verdade. Não sei se consegui o emprego, mas foi divertido, no mínimo. O suficiente pra virar mais um tema de post.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O desequilíbrio do lado de dentro da janela

Eu ando agora num desequilíbrio só. Acordo toda alegre, dando bom dia aos passarinhos (mesmo que não veja nenhum), e logo depois o dia cinza me deprime e prefiro voltar pra cama. Levanto de novo, escrevo uma mensagem bem bobinha e feliz pra ele e depois caio numa dúvida profunda e tenebrosa entre continuar uma relação à distância ou liberá-lo do compromisso de uma vez. E grito, choro, esperneio, me descabelo e começo, como se nada tivesse acontecido, a cantarolar uma musiqueta feliz e fofinha enquanto faço ovos mexidos.
Dizem que as mudanças de clima alteram as taxas hormonais e coisas assim que eu não entendo muito bem (mas por preguiça e desinteresse que por falta de aprendizado mesmo). Aprendi que o frio deixa minha pele ressecada, que se eu sorrir as marcas de expressão ficam lá por muito tempo (e pareço o Coringa sem desfazer o sorriso), que o mesmo vale pra qualquer tipo de expressão, ou seja, cuidado redobrado com as rugas, e que se não passar hidratante vai começar tudo a despelar. Descobri também que se eu me depilar terei alergia em qualquer lugar que comece a surgir pelo de novo (e isso é pavoroso), que se ficar sem exercício começo a criar placas roxas pelo corpo como um pedaço de carne há muito tempo esquecido na geladeira, que se não secar os cabelos fico resfriada, que meu nariz sangra com ventos fortes (e mesmo quando estou em casa, às vezes), que usar meia-calça sempre não é tão horrível assim quando se precisa, e que a estética pode ficar de lado quando o frio tá matando (em casa, claro, que ainda não aprendi a sair descombinando na rua, por favor).
Claro que muitas outras coisas acontecem durante as estações frias. É mais difícil perder gordurinhas indesejadas. Muito mais difícil sair debaixo das cobertas. Tomar banho então, nem quero comentar sobre isso aqui de novo! E a tristeza daqueles dias brancos, cinzas, deprimentes, com aquela paisagem estática, aqueles prédios cheios de fuligem, os telhados sem pássaros, as pessoinhas parecendo bolinhos cheias de roupa lá embaixo na rua...
É assim, bem no meio dessa tristeza toda que começo a cantar e dançar pela casa, que faço bobices, caretas, festinha na maninha, montinho na mamí, piada com o namô da mamí, escrevo mensagens tolas e apaixonadas aqui e nos outros meios internéticos e me enrolo no colorido e aconchegante cachecol de Jah. E no meio da alegria também invento de querer porquê pra tudo, duvidar de tudo e de todos, inclusive de mim mesma, aí me culpo, me flagelo e me martirizo por ser tão ridiculamente frágil (não fraca, atentem para a diferença) e não conseguir me controlar nunca. E machuco os outros, remoendo assuntos perdidos no tempo, fazendo tempestades de onde mal existe uma gota d'água, afastando quem me quer bem com esse meu jeitinho estúpido de amar e, ao mesmo tempo, desagradar.
O melhor mesmo a fazer, quando tudo é frio e saudade, é continuar escrevendo e lendo, lendo sem parar. Não sei mais fazer outra coisa a não ser ler, ler e reler. Passo os dias e as noites com o notebook no colo, lendo os livros que não tive tempo, os artigos pra me preparar pra aula, as besteiras que eu mesma escrevo e as conversas que gravo com ele. E pra quem pensa que eu passo o dia na internet porque não tenho o que fazer, está correto. Eu não tenho o que fazer, fico lendo na tela e esperando alguma boa alma que sinta minha falta vir falar comigo. Mas isso é por enquanto, só enquanto busco coragem de sair do lado de dentro de casa e da frente da janela. Porque, quando o dia se colorir de novo, terei tanto a fazer lá fora que estranho será me encontrar por aqui, nesse mundinho que inventei para continuar existindo.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Onde o cotidiano e o sentimento formam a paisagem

Acordei ontem com uma imagem muito nitidamente formada, e eu a via de olhos abertos, parada no meio da sala. As imensas janelas (do sétimo andar) de vidro abertas, eu e ele sentados no peitoril, cada um de um lado, encostados na parede. Ele de calça de moletom azul marinho e blusa de mangas compridas quase do mesmo tom, sentado com as pernas esticadas. Eu de calça preta e casaco de moletom vermelho, toda encolhida, com os joelhos tocando o peito. Cada um com uma xícara de café fumegante na mão, se olhando mutuamente, por cima da xícara que acabara de tocar os lábios dos dois. E ficávamos assim, parados, nos olhando, "com aquele olhar brilhante misturado à imensa preguiça eterna que nós temos ao acordar" (a citação é dele mesmo).
Passei o dia com essa imagem na cabeça. Eu esfregava os olhos e continuava vendo. Era só chegar na sala e ver a janela que tudo voltava, como se tivessem colocado aquele quadro de nós dois lá, no lugar da minha janela. E eu nem lembro como era o dia, do tanto que fiquei absorta em nossa imagens, mas parecia bem frio, porque eu estava com aquelas faces rosadas e os pés dele estavam gelados (não queiram saber como, mas eu sabia que estavam).

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Isso me fez lembrar, hoje, quando procurava alguma imagem que pudesse minimamente traduzir o que eu tento dizer (mesmo sabendo que seria impossível achar, já que só eu vejo isso e ele nunca veio aqui e nem sequer conhece minha janela), da exposição de um amigo meu. Não, não tem nenhum casal apaixonado nas fotos dele, nem xícaras fumegantes, nem frio, embora também o cotidiano permeie as fotografias de Diogo Vianna e Ulisse Parente e os grafites de Adriana Chagas. O que há na exposição "Ambiente Natural" (que ocorre na Galeria Theodoro Braga, do Centur, em Belém-Pa, até 28 de agosto, de segunda a sexta, das 08 às 14h) é a "interação visceral entre o que é e o que pode vir a ser, entre o real e o imaginado, e que no fundo só se distinguem quando saturamos os detalhes que nunca deixaram de existir lá, no mesmo lugar" (Eduardo Souza). Segue uma pequena mostra aos interessados.

Foto de Diogo Vianna

Foto de Ulisses Parente

Grafite de Adriana Chagas

domingo, 16 de agosto de 2009

E quando eu desabo, quando minhas asas não suportam mais de tanta fadiga e dor, os braços dele estão lá, rentes ao chão, como se mesmo com o susto, ele nunca me faltasse e sempre estivesse junto a mim, antes que eu me reparta em mil e trinta e dois pedaços pelo piso. E eu nunca senti tanta vertigem e contentação ao mesmo tempo...


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

E só porque eu não estou perto não siginifica que não estou ao teu lado...

Porque quando entrei naquela sala de embarque eu sabia que, do lado de fora, deixava os pedaços mais preciosos de mim. E é contigo que eles hão de estar, esperando para retornar aos meus braços, sob meus olhos, sobre minha cabeça, pedaços de mim agora também tão teus.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009


E assim percebo que, por agora, melhor mesmo é ficar em casa, vegetando no sofá, com o notebook (e seus milhares de textos e músicas) no colo e, vez ou outra, uma garrafa ao lado.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A volta da luz

Precisei parar. No terceiro dia, apenas. Sei que outros por aí fazem o que tem de fazer em sete dias, mas eu só fui até o terceiro. Mas não foi nada cabalístico, nem preguiça ou falta de vontade ou estímulo criativo. Muito menos falta de tempo, isso ando tendo de sobra (infelizmente, na verdade).
Acontece que, ao me reler (e o faço com frequência), pensei que estava sendo injusta com meu primeiro inverno pintando-o com as cores que normalmente lhe cabem. Daí ter iniciado o tal inverno interno, creio. O vento gélido da manhã invernal soprava por minh'alma e eu mal percebi que, quando sentia frio, não era mais culpa do pobre Sr. Inverno, mas de minhas dúvidas pré-primavera. Aquela maldita questão que me aterroriza todas as manhãs - e se não der certo? - anda a me pertubar a paciência.
E desconto em quem não tem dúvida de nada e confia em mim mais que em si próprio. E jogo minhas incertezas em quem já está tão incerto quanto, precisando de uma força a mais para continuar. E reclamo, grito, me exaspero com qualquer um que julgo não entender pelo que passo. Não vai passar tão rápido, eu sei. Mas ninguém precisa aguentar o que eu mesma não aguento, também sei.
Por isso, a parada abrupta na cadência diária. Análise, reflexão? Chame do que quiser. Só sei que não teremos mais "diarinhos" de meus dias invernais ou de qualquer estação, até porque eu nunca fui adepta de registros que possam ajudar a traçar minha biografia quando eu me for para as Terras Imortais. Sem compromissos, sem datas marcadas, sem esperas. Apenas os textos fluindo, como sempre fluíram, sobre as teclas negras de meu companheiro eletrônico, por entre os fluxos de idéias que jorram de meus pensamentos sinuosos.
E quem me vê, hoje, de cabelo feito, livros novos e livre da necessidade do cachecol de Jah nem imagina que o vento continua a soprar dentro de mim... Mas a luz que surgiu hoje, em minha sacada, lembrando-me que o azul não tardaria a brotar, fez sua morada novamente em meu mundo vermelho. E já não me escondo mais, nem tremo de frio.

domingo, 9 de agosto de 2009

Dia 03. Começam as "crônicas de um inverno (interno)"

Foi tenso. Esqueci de lavar as louças do dia anterior, então tive de acordar cedo pra lavar antes da mamí acordar. Chuva intensa. Arrumo os pratos e copos, começo pelos talheres. Frio. Absurdo. Os dedos doem demais. Não desisto, afinal, fui eu quem me ofereci para lavar toda a louça do dia inteiro na hora de dividir as tarefas como mais um membro da família em casa. Eu gosto de lavar a louça, afinal, é só o que sei fazer domesticamente falando. Mas justo no inverno? No meu primeiro inverno ainda? Tudo bem, continuo, com dor e tudo. Passo pros copos, depois os pratos e uma panela. Hora de tirar o sabão de tudo, embaixo da torneira. Tensão total. Lavo tudo com atenção, como de costume, tentando fingir que não sinto dor nenhuma. Mas ela vai penetrando a pele, passando pros ossos, chegando ao pulso. Tento ser mais rápida. Termino. As mãos vermelhas, ardendo, queimando, enquanto os ossos sentem aquela dor aguda de estarem sendo perfurados por furadeiras. Volto correndo pra cama e enrolo as mãos no cachecol de Jah. Durmo de novo quando consigo controlar o frio das mãos.
Acordo. Mamí batendo na porta. Hora de levantar, tomar banho (e começar a tortura do pós-banho), tomar café e se arrumar pra ir visitar uns amigos dela em (pasmem) Belém Novo. Pelo que entendi, é como se fosse uma espécie de distrito de Porto Alegre (perdoem-me a ignorância se eu estiver errada), longe pacas, ainda mais pra sair de casa nesse dia chuvoso. Mas tudo bem, não estamos fazendo nada mesmo... Recomendam-me que vá ¨bem agasalhada¨. Descobri que não sei ainda me vestir para encarar o inverno na rua. Atrapalho-me com a sequência de meia-calça, calça, meia, blusa 1, blusa 2, casaco, bota e nem lembro mais o que. Só sei que, se não tiver luva, o último é o cachecol de Jah (ou a bandeira riograndense, como também pode-se interpretar), sempre, porque não consigo não amarrar os cabelos (e proteger as orelhas, claro) com ele. Mas hei de me acostumar.
Enquanto mamí e seu namô vestem-se adequadamente no quarto e irmã escova repetidamente os dentes no banheiro, vou preparar meu pão. Vejo um homem no telhado ao lado da janela da cozinha. Naturalmente continuo preparando o pão. Lembro que moro no sétimo andar e olho novamente para a janela. O homem me olha e sorri. Medo. Arrepio. Penso em parar de beber, até. Lembro que não bebi nada durante a noite passada. Grito para a irmã, que já está na sala. Ela diz que não é nada. Que ele deve estar consertando alguma antena. No telhado, na chuva, no frio, sábado de manhã, consertando antena? Suspeito... Como o pão e saímos.
A casa no tal Belém Novo é mesmo muito longe. Pegamos uma lotação e, sei lá, 40 minutos (pelo menos) depois chegamos no fim da linha de Ipanema (sim, tem Ipanema em Porto Alegre, e é às margens do Guaíba, o rio). Esperamos na chuva enquanto acompanhamos o resultado da chuva intensa da madrugada. Dizem que foi um minidilúvio. Eu não sei como foi, dormia, mas vi árvores arrancadas e buracos nas ruas, com aquelas poças enormes. Lembrei da minha cidade. Em como a cena era bem parecida, se não fosse aquele vento frio que agora entrava com tanta violência em minhas narinas que as feriram. Mais dor. E aquelas mãos que não esquentavam nunca? Nossa carona chegou. Prosseguimos viagem até a casa dos amigos.
O dia inteiro de comidinhas, tv a cabo, programinhas inúteis, conversas que não entendo, carinho em cachorros, saudade ¨dele¨, vontade de sair correndo e ligar o note, frio e mais frio que não acabava mais. Como dependíamos de carona, porque nenhum de nós sabia sair dali e com aquela chuva, nem pensar em se arriscar, chegamos em casa por volta de meia-noite. Todos cansados. Eu cansada e com crise de reumatismo. Num último esforço, corro para o bar-lancheria ao lado do prédio e pergunto se ainda tem quentão. Acabou. Faço uma cara de desolação. Olho ao redor, procurando algo minimamente alcoólico. Só cerveja, gelada ainda. Desisto. Vamos embora e terminar esse dia.
(Claro que cheguei em casa e, antes mesmo de pensar em trocar a roupa, liguei o note e fui procurar por ele. Mas ele não estava e nem ninguém. Só eu fico em casa num sábado à noite. Mas se estivessem no meu lugar, entenderiam, acredito. Vejo o início de meu inverno interno. Vou deitar, conjecturando sobre o inverno estar se apossando de mim. Penso se terei luz solar o suficiente contra mais um mês de dias cinzas e chuvosos. Sinto meu rosto esquentar, porque minhas bochechas vivem rosadas no rosto que vai empalidecendo. Melhor dormir. Por todo o fim de semana, se conseguir.)

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Second day. O frio de frente.

Acordei. Frio. Não tive coragem de levantar. Dormi de novo, mais agarrada ainda às cobertas, ao elefante a à aranha de pelúcia e ao cachecol de Jah. Encho a cama de objetos fofinhos para não morrer de saudade, nem de frio.
O telefone toca. Acordo, de sobressalto. Por um instante esqueço onde estou e penso em quem poderia ser. Nanossegundos. Lembro que não pode ser para mim, não conheço ninguém que não esteja em minha própria casa. Saio debaixo das cobertas e tento encarar o segundo dia com mais ânimo e disposição que o primeiro.
Banho quente no banheiro gelado. Tenso, muito tenso. E aqueles minutos intermináveis entre desligar o chuveiro, pegar a toalha, enxugar cuidadosamente todas as partezinhas do corpo, vestir a roupa, escovar os dentes (com água gelada) e depois tentar esquentar sem muito sucesso as mãos? Torturas diárias, mas ínfimas perto da dorzinha de não receber abraços de quem se espera. Sorte ter bons abraços comigo, ainda. Senão, nada teria sentido. Eu não planejei um exílio, afinal de contas.
Depois de ver que já era bem tarde para começar o dia, calço as botas e vou pra rua. Meu primeiro dia de rua. Banco, pagamentos, e o resto foi interrompido por uma garoa ameaçadora. Não ando de guarda-chuva nunca, nem na cidade da chuva da tarde, por que haveria eu de carregar um objeto desses aqui? Melhor voltar pra casa.
Retorno. Lembram-me que devia ter feito uma coisinha importante na rua. Medinho. Salva por uma alma caridosa que se compadeceu de mim e se foi, em meu lugar. Não é porque fui sozinha pra rua em meu primeiro inverno que não esteja morrendo de frio. Eles entenderam.
Olho-me no espelho. Botas marrons, combinando com o casaco marrom-lindo-de-morrer emprestado da irmã, jeans surrados, cachecol de Jah amarrado na cabeça, apanhando os cabelos (soltos) e protegendo as orelhas, mãos nos bolsos do casaco. Sorrio para mim mesma. Penso em como ele gostaria de me ver assim. Irmã tira uma foto do celular mesmo. Corro para o computador (minha principal atividade, por enquanto). Notebook no colo, pés balançando no sofá, começo a escrever.
Torço para o Sol aparecer. Para as aulas começarem. Para receber visitas queridas. Para os ossos pararem de doer. Para termos dinheiro e instalarmos aquecedores em casa. Torço por minha nova vida. E recebo as torcidas de todos também.
Assim teve início o segundo dia. E só agora vou pensar no que será o almoço. Mais um clima tenso: eu na cozinha aterrorizo qualquer um. Sorte que tenho bons aliados por aqui. E acabo de sentir um perfume de tomate e manjericão. Hora de desligar.