quarta-feira, 29 de abril de 2009

Monotonia + Redenção = Abril

Trabalho. Tédio e trabalho.
Nas caixas de som, Tom Waits regurgita uma canção.
Eu a acompanho mais com os dedos que com os ouvidos.
Na cabeça, dores e pensamentos encaraminholados.
No resto do corpo, restos de outro corpo que insiste em não ir embora.

Os últimos dias de abril nunca me foram tão inexpressivos.
Recentes descobertas, parcas revoluções.
Que dizer das mudanças?
Aprendi a dizer verdades no dia em que nos é permitido mentir.
E não ter de mentir nunca me pareceu tão bom!

Há um mês retornei às labaredas mangueirosas de minha cidade.
Há um mês renovei minha esperança em humanos e mesmo em ex-humanos.
Há um mês aguardo a vinda de um redentor que, sei, também me aguarda.
Ele veio. Eu não o redimi. E ele me salvou sem exigir contrapartida.
Benditos sejam os frutos de um laborioso abril!

domingo, 19 de abril de 2009

Quando eu finjo, eu morro um pouco mais

Eu achei que fingia bem. Sempre me vangloriei de não gostar de mentir, mas de fazê-lo muito bem quando necessário. Se bem que mentir não é o mesmo que fingir, stricto sensu. Fingir é como revestir-se de um disfarce, usar de artífices que ultrapassam o painel simplório e vulgar da mentira. Fingir é quase um dom, mas poucos são capazes de fazer bom uso dele.
Enfim, não foi pra enaltecer as possíveis qualidades de um bom falsário que me pus a escrever. Mas sim, para denunciar minha total inaptidão de continuar a fingir diante de uma certa situação. Eu posso fingir pra adultos e mesmo crianças, para animais e nas ocasiões mais impróprias. No entanto, há um texto que me imobiliza. Um texto que esgota todas as minhas possibilidades na arte de fingir e que me deixa com cara de imbecil frente a ele.
Não é um texto importante, pelo que vejo. E nem diz nada demais, pelo que me conta o autor. Mas me incomoda de uma tal forma que não consigo sequer esquecer da sua existência. Eu leio, por curiosidade, sempre (mesmo já sabendo decorado), e aquele sentimento vai surgindo de novo, tomando conta de  mim até me deixar de orelhas vermelhas... Controlada como sou, abandono o texto lá e me entreto com outras coisas.
Em outras vezes, não é tão fácil... leio, releio, me mordo toda, enraiveço, respiro fundo e leio uma última vez, remoendo cada palavrinha. Aí penso que não é nada demais, eu mesma já recebi textos muito mais legais, bem escritos e de melhor conteúdo. Agarro-me a esses pensamentos de superioridade para esquecer o maldito texto lá no lugar dele. 
No outro dia, começo tudo de novo. E testo mais uma vez a minha incrível capacidade de fingir. O único problema é que fingir todo dia me mata um pouco... Ainda mais ter de fingir pro autor, não é nada bom... Quem sabe um dia ele se toca e pára de escrever esse tipo de baboseira. Ou quem sabe começa a fingir também e nos matamos os dois! 

Reinventando o domingo

Almoço de domingo.
Nem ele, nem ela, nem uma mísera mosca para servir de companhia.
Poucos automóveis na rua, Sol a pino e silêncio...
Tudo no domingo é silêncio (exceto quando se tem vizinhos barulhentos).

Os meus entes queridos se foram
E me deixaram o maldito "sunday feeling".
Só me resta um macarrão instantâneo
E conversas vazias pela rede mundial.

Já li todos os meus livros
Mal consigo reouvir meus discos
Televisão é artigo de decoração
Voltar a dormir??

Eu acordei e lavei o cabelo
Escolhi um vestido florido e esvoaçante
Depois comi azeitonas e chocolates
E o domingo ainda era um domingo sem-graça...

Resolvi ligar o computador
Saudades, meteoros e notícias vagas
O licor de damasco me aguarda no andar de cima
E a hora de ouvir tua voz não chega nunca!

Voltarei ao Sonhar,
À Passárgada, ou Stonehenge
Melhor que continuar acordada
Esperando que mais um domingo acabe (antes de acabar com minha sanidade).