terça-feira, 22 de setembro de 2009

Deveres Cívicos


O Sete de Setembro nunca significou muita coisa para mim além do que os meus estudos históricos apontavam. Quando penso que o ensino de história foi inserido no cotidiano escolar justamente para formar um espírito de identidade nacional e amor à pátria, estarreço-me mais ainda com minha apatia frente a essa data comemorativa, como diante de diversas outras datas. Feriados, festas pré-estabelecidas e esses cortejos nada mais são que tradições inventadas e desculpas para não trabalhar e gastar dinheiro, certo?
Certo, até deparar-me ao Vinte de Setembro. Não querendo ser bairrista e reconhecendo que uma grande parcela pensa diferente, o senso comum aceita que gaúchos não se sentem brasileiros, são bairristas sim e cheios de "gauderismos". Não vejo nada de errado com o senso de pertencimento a um local ou enaltecimento e ufanismo local, embora desconfie de todo e qualquer exagero. O que vejo de no mínimo perigoso é um sentimento regional que ultrapassa o nacional a ponto de suplantá-lo sem dó nem piedade. E é o que vejo aqui. São riograndenses antes e acima de brasileiros (quando são brasileiros).
Voltando ao 20. Comemoração da Revolução Farroupilha. Não precisa ser nenhum historiador ou grande estudante pra saber que foi uma briguinha de proporções absurdas pelo preço do charque. Considerando que, naquela época, apenas uma elite poderia consumir carne e que charque era uma carne nobre (por durar mais tempo sem estragar e tal), a grandiosa "Revolução Farroupilha" foi uma revoltinha elitista de filhinhos de papai tolos e birrentos. Claro que a partir daí assumiu um caráter político e blábláblá, mas que começou assim, foi mesmo.
1º questionamento: Por que os conflitos da elite se consagram como "revoluções" e os das ditas  "classes populares" (entendendo-as no sentido mais leigo e comum de "povo") são "revoltas, motins e levantes"?
2º questionamento: Se me revolto com a falta de senso de nacionalidade dos gaúchos, por que eu mesma nunca demonstrei nenhum civismo no 7 de Setembro? ("Grito dos Excluídos" não conta, porque mesmo sendo um "civismo às avessas", ainda assim não me inseri por mais que uma vez e meia)
3º questionamento: Por mais que me sinta belemense, paraense, amazônida, brasileira, latino-americana, não carrego comigo tais simbolismos justo por entender que o senso de pertencimento é subjetivo. O contato com o outro gera o afloramento do tal senso e a necessidade de autoafirmação frente à otridade. Mas eu não sinto. E agora?

Mesmo que eu não entenda o sentimento dos gaúchos (e não só deles, já que passei meu 20 de Setembro no Uruguai numa comemoração conjunta de Santana do Livramento-Brasil e Rivera-Uruguai), o desfile de cavalos e cavaleiros paramentados com seus trajes típicos e tudo mais é interessante de se ver. Enquanto é novidade, calro, porque depois parece tudo a mesma coisa, como qualquer desfile, de samba, de tropas, de marcianos e venusianos: quando a sensação de estranhamento e surpresa passa, com ela se vai o encantamento e a repetição torna tudo enfadonho. Achei bonito, no entanto, o sentimento das pessoas desfilando e das que assistiam. Registrei o momento com fotografias e coisas do tipo. Mas não descobri o meu lugar ali, nem em outro lugar. Cidadã do mundo? Talvez... 

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