quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Do amor

Por muito tempo, eu, na busca incessante de ser um fake de mim mesma, usando uma máscara que julgava ser inquebrável e uma armadura intransponível, esquivei-me de falar do amor. Primeiro porque do amor se tem o sentir, não o falar. E se não o conheço, não tenho do que falar. Depois porque, de tanto sentir, não mais sabia se tudo aquilo tinha sido ou não amor, ou afinal, se o que eu sentia como amor, fosse por quem ou o que fosse, fora algum dia o que eu mesma entendia a cada novo dia enquanto amor.
Percebi que meu pensar e meu sentir, quando extremamanete racionais, tornavam-se antíteses, e não movimentos dialéticos, como imaginava serem. Que o que eu professava não era o que sentia verdadeiramente e que o que eu dizia acreditar não passava de palavras vãs se eu não podia demonstrar.
Por alguns anos, longos anos, meu livro preferido foi Do amor e outros demônios, de Gabriel Garcia Marques. Um dos meus autores preferidos de todos os tempos, Roberto Freire, sempre falou do "amor libertário", com o qual me identifiquei à primeira vista, já que sempre tentei viver nos pressupostos da "revolução pelo amor". É bem verdade que, revestida de minha falsa insensibilidade, fruto de muitos desgostos e desprazeres, não se podia perceber claramente o quão clamadora de amor me fazia. Mas percebi que, há tempos meus modos brutos não enganavam mais ninguém e deixei que o amor se fizesse verdade em mim. Por isso, segue abaixo um texto com o qual muito me identifiquei, de autoria do Moska.
"Não falo do amor romântico, aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento. Relações de dependência e submissão, paixões tristes. Algumas pessoas confundem isso com amor. Chamam de amor esse querer escravo, e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida, explicada, entendida, julgada. Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro, antes de ser experimentado. Mas é exatamente o oposto, para mim, que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado. O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita. O amor é um móbile. Como fotografá-lo? Como percebê-lo? Como se deixar sê-lo? E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta? O amor é o desconhecido. Mesmo depois de uma vida inteira de amores, o amor será sempre o desconhecido, a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão. A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação. O amor quer ser interferido, quer ser violado, quer ser transformado a cada instante. A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto, decidimos caminhar pela estrada reta. Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos, e nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim. Não, não podemos subestimar o amor não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico. Não é meu coração que sente o amor. É a minha alma que o saboreia. Não é no meu sangue que ele ferve. O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito. Sua força se mistura com a minha e nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha. Como uma aurora colorida e misteriosa, como um crepúsculo inundado de beleza e despedida, o amor grita seu silêncio e nos dá sua música. Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do amor, se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço. E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo, me aventurando ao seu encontro. A vida só existe quando o amor a navega. Morrer de amor é a substância de que a Vida é feita. Ou melhor, só se Vive no amor. E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto."
*E esse texto dedico à minha querida Mallu, que entende o amor tão livre e belo quanto eu.

Um comentário:

  1. há! finalmente consigo comentar!
    livres, belas, fortes sempre.. eh sobrenatural o que nos move e eh inefável o coração de quemnos pode enxergar como somos e amar, amar e amr por fim.. o amor eh antes, eh depois.
    eu te amo.
    bate!

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