segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Adeus, querido inferno astral!

Coisas demais acontecendo, numa velocidade assustadora.
Desde o último post, briguei com o namô (sério, quase desisti), minha irmã do meio chegou em casa pra passar uns dias, passei a dormir no sofá, mamí chegou de Sampa, fui pra fronteira do Brasil com o Uruguai, compras, doces e paisagens exóticas, fiz aniversário em solo estrangeiro, voltei pro Brasil, fiz as pazes definitivas com o namô, comprei livros e textos novos pra estudar mais, assaltaram meu apartamento, levaram meu "velho sarado" e o "freddy" da mamí (nossos notebooks), doces, comésticos (ladrões metrossexuais?), a câmera fotográfica que minha irmã ganhou de aniversário, jóias da irmã menor e o dinheirinho dela, a irmã foi embora de volta e eu prestei depoimento pra brigada e pra PM.
Nem chorei. Pensei que dinheiro se consegue trabalhando de novo, bem como as coisas materiais que se foram. O trabalho de uma vida toda que tava no note... Bom, vou torcer pra encontrar em algum backup. As fotos e lembranças... Tenho sorte de ter boa memória e lembrar de tudo que me foi bom.
E agosto se foi. Com um susto e algumas perdas, é verdade. Mas, com tudo isso, pensei em como minha vida sempre transcorre assim, intensamente, escorrendo e arrasando tudo como lava de vulcão. Em como, em um quarto de século, já vivi mais que muita gente madura e, com certeza, aproveitei bem a vida. E em como, apesar da velocidade absurda em que vivo e de, às vezes, sentir que preciso desacelerar e respirar mais fundo, continuo torcendo pro ano acabar logo e 2010 chegar de uma vez, que eu quero logo começar uma vida verdadeiramente nova, com o namô aqui comigo, eu no mestrado oficialmente e trabalho estável. Desejem-me sorte e boas vibrações. :)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Como era bom meu arraial...

No início, era o trabalho. Correria, gritaria, broncas e desentendimentos. Depois o companheirismo, exacerbado, os momentos de descontração, as horas fazendo planilhas, inscrições, arrumando pastas, comendo fora de horário, sempre correndo, mas agora com uma leveza. E, com todo o cansaço, a vontade de trabalhar juntos no outro dia não nos deixava em paz.
E tinha a História, nossa querida e amada esposa, paixão primeira e inquestionável. Com ela, as discussões, as risadas, o carinho e a compreensão, em meio a tantas desavenças e desabafos.
A imagem abaixo é fruto do primeiro momento em que realmente nos vimos entrelaçados, irremediavelmente unidos. E tem sido assim, desde então. Parceiros, amigos, cúmplices e amantes. Entusiastas e idealistas, viajantes sem rumo certo, sonhadores tenazes e obstinados.
Parabéns a nós, que arriscamos e acertamos, numa época em que não parecia tão correto se permitir demonstrar o gostar. Que venham muitos dias mais e, de preferência, ao lado um do outro novamente.

domingo, 23 de agosto de 2009


Descobri que História é muito mais que uma paixão na minha vida. Que Educação, se aliada à História, pode ser uma ferramenta prática e interessante de verdade. E que a Antropologia e mesmo a Sociologia não são tão ruins quanto parecem, se não se sobrepuserem à História.

Entendi, acima de tudo, que minha vida não é nada sem que eu produza textos. Que "intelectuais orgânicos" (res)surgem também do tédio e do ócio e não somente da observação, indignação, questionamento, reflexão e blá-blá-blá. E que eu realmente nasci pra ler e escrever, antes de qualquer atividade.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Das crônicas do meu primeiro inverno - Tentando ser menina

Entrevista de emprego. Quer dizer, não é bem um emprego, mas é algo do tipo, uma "bolsa-tutoria". Não, não vou explicar como funciona, mas pode ser entendido como um emprego mesmo. Hoje, às 14h30. Sala 809. Na própria faculdade que pretendo cursar.
Li e reli o texto que enviei como "carta justificativa" pra me candidatar à vaga. Uma só pra sei lá quantos. Quer dizer, depois eu soube quantos, mas isso não interessa. Como eu dizia, eu li o texto umas doze vezes durante a manhã. Lia, falava com alguém no msn, baixava um CD e lia de novo, depois lavava louça, ia ao banheiro e lia de novo... E foi assim, até umas 12h30 quando li pela última vez. Pra que ler tanto, nem eu sei, já que era um texto meu mesmo. Acho que só precisava estar mais segura das minhas idéias. E também eu estava com aquela imagem cristalizada de perguntas-fórmulas prontas do tipo "por que você quer trabalhar conosco?" ou "como você pode ser útil à nossa empresa?" ou ainda "por que Porto Alegre?".
E então, depois de ter lido as doze vezes, fui procurar o que almoçar (e lembrei que não tinha tomado café, de novo). A irmã chega da aula, finalmente, "não preciso mais almoçar sozinha", penso; coisa que detesto mesmo é comer solitariamente. Esquento o almoço que mamí deixou pronto enquanto a mana faz suco de laranja na cozinha. E aquele barulho infernal do "juicemaker" ecoando na cozinha. E eu gritando pra tentar continuar o meu relato da conversa de ontem com o namô. Os vizinhos devem pensar que nosso apartamento virou algo semelhante a um hospício depois que cheguei, mas não tenho culpo se sempre me descontrolo no tom das gargalhadas ou nos ralhos com a mana justo na cozinha.
Almoço calmamente e termino como previ, às 13h30. Estou no horário. Aí começa a pior parte. Com que roupa eu vou? Tudo bem, sem pânico, escolher calcinha, meia-calça e jeans é bem fácil. Com isso em mãos, parto para o banho. Depois de me enxugar sem muita pretensão de ficar perfeito, vou até a sacada para sentir o clima e escolher a parte de cima da roupa. Não é propriamente frio, mas tem um vento um pouco forte demais pra não usar uma camisa de mangas compridas por debaixo do casaco. Fecho a sacada e visto uma camisa nova. Ridícula eu fico, parece que estou pronta pra dormir, mesmo com a calça jeans. Calço as botas de bico mais fino e salto quadrado, elegantemente pretas e longas. Claro que melhorou, mas nem botas de cristal melhorariam o ar de desleixo daquela blusa. Visto uma blusa azul-feliz-quase-escuro. Agora sim, até a irmã aprova.
Passado o problema da vestimenta, tem o cabelo. Meus deuses, por que o cabelo tá parecendo uma palha de milho ressecada justo hoje? E por que esqueci de tingir? Como vou me apresentar com um cabelo metade castanho-ruivo metade rosa-vermelho-água-de-salsicha? Pensa, pensa... tentar desatrapalhar é o fim, vai virar uma vassoura ou um leão dragqueen. Já sei, um coque bem apanhado, no alto da cabeça, com uma certa elegância até (se não fosse essa minha cara de moleca nerd), com um hashi desenhadinho enfiado no alto. A idéia é ótima, agora quem executa? Seis tentativas, seis! E o tempo passando... Depois da porcaria do coque cair cinco vezes, na sexta ele parece estar mais seguro e poucos fiapos rosa-choque escapam dele. Mas e esses filhotes na frente que parecem uma farofa torrada? Passa creme, anti-frizz e todas essas melecas. Ótimo, o cabelo tava seco, agora ficou tudo branco. Passa a toalha pra tirar o excesso, com cuidado pra não desarmar o coque! E a irmã morrendo de rir na porta do banheiro... Certo, o cabelo ficou no lugar, os filhotes também, mas parece agora que tô cheia de caspa com esses pedaços brancos, vai ser ótimo, uma tutora caspenta! Ah, que se dane, não mexo mais no cabelo, tá lindo e acabou!
Tem que fazer maquiagem. Meu olho direito tá só alergia, com a pálpebra superior vermelha e inchada. Como disfarça isso? Eu, muita afeita a cosméticos e truques de beleza que sou, claro que não sei de nada. Tem uma sombra em creme que às vezes uso quando quero disfarçar aquelas placas roxas... Tá, passo a sombra clarinha e pronto, dá efeito iluminador e nem dá pra ver que tá vermelho. Só que eu passo um quilo de sombra sem perceber e pronto, lambuzo o olho todo e a sobrancelha. Agora me sinto a Rainha Monga treinando pra ser palhaça! Seria melhor usar pasta d'água pra pintar a cara de branco, não? Sério, eu consigo fazer as piores besteiras justo quando o tempo tá se esgotando. Tenta limpar um pouco com papel, mela logo o outro olho de vez, passa um gloss qualquer pra não ressecar os lábios na rua e pronto, já chega disso!
Minha irmã está tendo uma crise histérica de riso no corredor. Pergunto se estou bem o suficiente pra eles não rirem de mim como ela. Ela ri mais um monte, pede desculpa e diz que tá bom depois que coloco o casaco, arrumo a bolsa e guardo delicadamente o cachecol de Jah na bolsa. Ela pára de rir e pergunta "mas vais usar esse cachecol???". E eu "não, só vou levar comigo pra dar sorte, eu não sou louca de combinar azul-feliz-quase-escuro com as cores da bandeira do Rio Grande, né?". Pego a chave e vou pra rua, faltando quinze minutos pro horário marcado.
Piso fora do prédio e aquele vento maravilhoso, que só em Porto Alegre deve existir, com o poder de te fazer mudar repentinamente de humor, me recebe, estragando o cabelo, ressecando os lábios independente do gloss e fazendo arder o nariz (e eu torcendo pra não começar a sangrar de novo). Aperto o passo. As botas apertam os dedos junto, malditos bicos finos! Tudo bem, só são uns quatro quarteirões. E começa a chover! Mas que diabos que tudo acontece nesse dia!!! Respiro fundo, parada no sinal. Podia ser pior, eu poderia estar atrasada...
Chego ao prédio exatamente às 14h30. Espero o elevador até o oitavo andar e procuro a sala, nos corredores errados primeiro, naturalmente. Encontro a sala, finalmente! Pessoas simpáticas. Apresentações de praxe, primeiro os coordenadores, depois os candidatos. Eu sou a primeira, porque sempre tenho essa sorte de ser agraciada como cobaia. Não sei se consegui alguma coisa, mas aproveitei a oportunidade pra divulgar meu blog. Depois veio uma provinha escrita. Escrevo sem parar e sou a última a sair. Aproveito pra conversar com os coordenadores, faço propaganda da minha mamí melhor doutoranda da faculdade e explico o porquê de Porto Alegre. Eles sorriem, amigavelmente de verdade. Não sei se consegui o emprego, mas foi divertido, no mínimo. O suficiente pra virar mais um tema de post.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O desequilíbrio do lado de dentro da janela

Eu ando agora num desequilíbrio só. Acordo toda alegre, dando bom dia aos passarinhos (mesmo que não veja nenhum), e logo depois o dia cinza me deprime e prefiro voltar pra cama. Levanto de novo, escrevo uma mensagem bem bobinha e feliz pra ele e depois caio numa dúvida profunda e tenebrosa entre continuar uma relação à distância ou liberá-lo do compromisso de uma vez. E grito, choro, esperneio, me descabelo e começo, como se nada tivesse acontecido, a cantarolar uma musiqueta feliz e fofinha enquanto faço ovos mexidos.
Dizem que as mudanças de clima alteram as taxas hormonais e coisas assim que eu não entendo muito bem (mas por preguiça e desinteresse que por falta de aprendizado mesmo). Aprendi que o frio deixa minha pele ressecada, que se eu sorrir as marcas de expressão ficam lá por muito tempo (e pareço o Coringa sem desfazer o sorriso), que o mesmo vale pra qualquer tipo de expressão, ou seja, cuidado redobrado com as rugas, e que se não passar hidratante vai começar tudo a despelar. Descobri também que se eu me depilar terei alergia em qualquer lugar que comece a surgir pelo de novo (e isso é pavoroso), que se ficar sem exercício começo a criar placas roxas pelo corpo como um pedaço de carne há muito tempo esquecido na geladeira, que se não secar os cabelos fico resfriada, que meu nariz sangra com ventos fortes (e mesmo quando estou em casa, às vezes), que usar meia-calça sempre não é tão horrível assim quando se precisa, e que a estética pode ficar de lado quando o frio tá matando (em casa, claro, que ainda não aprendi a sair descombinando na rua, por favor).
Claro que muitas outras coisas acontecem durante as estações frias. É mais difícil perder gordurinhas indesejadas. Muito mais difícil sair debaixo das cobertas. Tomar banho então, nem quero comentar sobre isso aqui de novo! E a tristeza daqueles dias brancos, cinzas, deprimentes, com aquela paisagem estática, aqueles prédios cheios de fuligem, os telhados sem pássaros, as pessoinhas parecendo bolinhos cheias de roupa lá embaixo na rua...
É assim, bem no meio dessa tristeza toda que começo a cantar e dançar pela casa, que faço bobices, caretas, festinha na maninha, montinho na mamí, piada com o namô da mamí, escrevo mensagens tolas e apaixonadas aqui e nos outros meios internéticos e me enrolo no colorido e aconchegante cachecol de Jah. E no meio da alegria também invento de querer porquê pra tudo, duvidar de tudo e de todos, inclusive de mim mesma, aí me culpo, me flagelo e me martirizo por ser tão ridiculamente frágil (não fraca, atentem para a diferença) e não conseguir me controlar nunca. E machuco os outros, remoendo assuntos perdidos no tempo, fazendo tempestades de onde mal existe uma gota d'água, afastando quem me quer bem com esse meu jeitinho estúpido de amar e, ao mesmo tempo, desagradar.
O melhor mesmo a fazer, quando tudo é frio e saudade, é continuar escrevendo e lendo, lendo sem parar. Não sei mais fazer outra coisa a não ser ler, ler e reler. Passo os dias e as noites com o notebook no colo, lendo os livros que não tive tempo, os artigos pra me preparar pra aula, as besteiras que eu mesma escrevo e as conversas que gravo com ele. E pra quem pensa que eu passo o dia na internet porque não tenho o que fazer, está correto. Eu não tenho o que fazer, fico lendo na tela e esperando alguma boa alma que sinta minha falta vir falar comigo. Mas isso é por enquanto, só enquanto busco coragem de sair do lado de dentro de casa e da frente da janela. Porque, quando o dia se colorir de novo, terei tanto a fazer lá fora que estranho será me encontrar por aqui, nesse mundinho que inventei para continuar existindo.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Onde o cotidiano e o sentimento formam a paisagem

Acordei ontem com uma imagem muito nitidamente formada, e eu a via de olhos abertos, parada no meio da sala. As imensas janelas (do sétimo andar) de vidro abertas, eu e ele sentados no peitoril, cada um de um lado, encostados na parede. Ele de calça de moletom azul marinho e blusa de mangas compridas quase do mesmo tom, sentado com as pernas esticadas. Eu de calça preta e casaco de moletom vermelho, toda encolhida, com os joelhos tocando o peito. Cada um com uma xícara de café fumegante na mão, se olhando mutuamente, por cima da xícara que acabara de tocar os lábios dos dois. E ficávamos assim, parados, nos olhando, "com aquele olhar brilhante misturado à imensa preguiça eterna que nós temos ao acordar" (a citação é dele mesmo).
Passei o dia com essa imagem na cabeça. Eu esfregava os olhos e continuava vendo. Era só chegar na sala e ver a janela que tudo voltava, como se tivessem colocado aquele quadro de nós dois lá, no lugar da minha janela. E eu nem lembro como era o dia, do tanto que fiquei absorta em nossa imagens, mas parecia bem frio, porque eu estava com aquelas faces rosadas e os pés dele estavam gelados (não queiram saber como, mas eu sabia que estavam).

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Isso me fez lembrar, hoje, quando procurava alguma imagem que pudesse minimamente traduzir o que eu tento dizer (mesmo sabendo que seria impossível achar, já que só eu vejo isso e ele nunca veio aqui e nem sequer conhece minha janela), da exposição de um amigo meu. Não, não tem nenhum casal apaixonado nas fotos dele, nem xícaras fumegantes, nem frio, embora também o cotidiano permeie as fotografias de Diogo Vianna e Ulisse Parente e os grafites de Adriana Chagas. O que há na exposição "Ambiente Natural" (que ocorre na Galeria Theodoro Braga, do Centur, em Belém-Pa, até 28 de agosto, de segunda a sexta, das 08 às 14h) é a "interação visceral entre o que é e o que pode vir a ser, entre o real e o imaginado, e que no fundo só se distinguem quando saturamos os detalhes que nunca deixaram de existir lá, no mesmo lugar" (Eduardo Souza). Segue uma pequena mostra aos interessados.

Foto de Diogo Vianna

Foto de Ulisses Parente

Grafite de Adriana Chagas

domingo, 16 de agosto de 2009

E quando eu desabo, quando minhas asas não suportam mais de tanta fadiga e dor, os braços dele estão lá, rentes ao chão, como se mesmo com o susto, ele nunca me faltasse e sempre estivesse junto a mim, antes que eu me reparta em mil e trinta e dois pedaços pelo piso. E eu nunca senti tanta vertigem e contentação ao mesmo tempo...


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

E só porque eu não estou perto não siginifica que não estou ao teu lado...

Porque quando entrei naquela sala de embarque eu sabia que, do lado de fora, deixava os pedaços mais preciosos de mim. E é contigo que eles hão de estar, esperando para retornar aos meus braços, sob meus olhos, sobre minha cabeça, pedaços de mim agora também tão teus.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009


E assim percebo que, por agora, melhor mesmo é ficar em casa, vegetando no sofá, com o notebook (e seus milhares de textos e músicas) no colo e, vez ou outra, uma garrafa ao lado.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A volta da luz

Precisei parar. No terceiro dia, apenas. Sei que outros por aí fazem o que tem de fazer em sete dias, mas eu só fui até o terceiro. Mas não foi nada cabalístico, nem preguiça ou falta de vontade ou estímulo criativo. Muito menos falta de tempo, isso ando tendo de sobra (infelizmente, na verdade).
Acontece que, ao me reler (e o faço com frequência), pensei que estava sendo injusta com meu primeiro inverno pintando-o com as cores que normalmente lhe cabem. Daí ter iniciado o tal inverno interno, creio. O vento gélido da manhã invernal soprava por minh'alma e eu mal percebi que, quando sentia frio, não era mais culpa do pobre Sr. Inverno, mas de minhas dúvidas pré-primavera. Aquela maldita questão que me aterroriza todas as manhãs - e se não der certo? - anda a me pertubar a paciência.
E desconto em quem não tem dúvida de nada e confia em mim mais que em si próprio. E jogo minhas incertezas em quem já está tão incerto quanto, precisando de uma força a mais para continuar. E reclamo, grito, me exaspero com qualquer um que julgo não entender pelo que passo. Não vai passar tão rápido, eu sei. Mas ninguém precisa aguentar o que eu mesma não aguento, também sei.
Por isso, a parada abrupta na cadência diária. Análise, reflexão? Chame do que quiser. Só sei que não teremos mais "diarinhos" de meus dias invernais ou de qualquer estação, até porque eu nunca fui adepta de registros que possam ajudar a traçar minha biografia quando eu me for para as Terras Imortais. Sem compromissos, sem datas marcadas, sem esperas. Apenas os textos fluindo, como sempre fluíram, sobre as teclas negras de meu companheiro eletrônico, por entre os fluxos de idéias que jorram de meus pensamentos sinuosos.
E quem me vê, hoje, de cabelo feito, livros novos e livre da necessidade do cachecol de Jah nem imagina que o vento continua a soprar dentro de mim... Mas a luz que surgiu hoje, em minha sacada, lembrando-me que o azul não tardaria a brotar, fez sua morada novamente em meu mundo vermelho. E já não me escondo mais, nem tremo de frio.

domingo, 9 de agosto de 2009

Dia 03. Começam as "crônicas de um inverno (interno)"

Foi tenso. Esqueci de lavar as louças do dia anterior, então tive de acordar cedo pra lavar antes da mamí acordar. Chuva intensa. Arrumo os pratos e copos, começo pelos talheres. Frio. Absurdo. Os dedos doem demais. Não desisto, afinal, fui eu quem me ofereci para lavar toda a louça do dia inteiro na hora de dividir as tarefas como mais um membro da família em casa. Eu gosto de lavar a louça, afinal, é só o que sei fazer domesticamente falando. Mas justo no inverno? No meu primeiro inverno ainda? Tudo bem, continuo, com dor e tudo. Passo pros copos, depois os pratos e uma panela. Hora de tirar o sabão de tudo, embaixo da torneira. Tensão total. Lavo tudo com atenção, como de costume, tentando fingir que não sinto dor nenhuma. Mas ela vai penetrando a pele, passando pros ossos, chegando ao pulso. Tento ser mais rápida. Termino. As mãos vermelhas, ardendo, queimando, enquanto os ossos sentem aquela dor aguda de estarem sendo perfurados por furadeiras. Volto correndo pra cama e enrolo as mãos no cachecol de Jah. Durmo de novo quando consigo controlar o frio das mãos.
Acordo. Mamí batendo na porta. Hora de levantar, tomar banho (e começar a tortura do pós-banho), tomar café e se arrumar pra ir visitar uns amigos dela em (pasmem) Belém Novo. Pelo que entendi, é como se fosse uma espécie de distrito de Porto Alegre (perdoem-me a ignorância se eu estiver errada), longe pacas, ainda mais pra sair de casa nesse dia chuvoso. Mas tudo bem, não estamos fazendo nada mesmo... Recomendam-me que vá ¨bem agasalhada¨. Descobri que não sei ainda me vestir para encarar o inverno na rua. Atrapalho-me com a sequência de meia-calça, calça, meia, blusa 1, blusa 2, casaco, bota e nem lembro mais o que. Só sei que, se não tiver luva, o último é o cachecol de Jah (ou a bandeira riograndense, como também pode-se interpretar), sempre, porque não consigo não amarrar os cabelos (e proteger as orelhas, claro) com ele. Mas hei de me acostumar.
Enquanto mamí e seu namô vestem-se adequadamente no quarto e irmã escova repetidamente os dentes no banheiro, vou preparar meu pão. Vejo um homem no telhado ao lado da janela da cozinha. Naturalmente continuo preparando o pão. Lembro que moro no sétimo andar e olho novamente para a janela. O homem me olha e sorri. Medo. Arrepio. Penso em parar de beber, até. Lembro que não bebi nada durante a noite passada. Grito para a irmã, que já está na sala. Ela diz que não é nada. Que ele deve estar consertando alguma antena. No telhado, na chuva, no frio, sábado de manhã, consertando antena? Suspeito... Como o pão e saímos.
A casa no tal Belém Novo é mesmo muito longe. Pegamos uma lotação e, sei lá, 40 minutos (pelo menos) depois chegamos no fim da linha de Ipanema (sim, tem Ipanema em Porto Alegre, e é às margens do Guaíba, o rio). Esperamos na chuva enquanto acompanhamos o resultado da chuva intensa da madrugada. Dizem que foi um minidilúvio. Eu não sei como foi, dormia, mas vi árvores arrancadas e buracos nas ruas, com aquelas poças enormes. Lembrei da minha cidade. Em como a cena era bem parecida, se não fosse aquele vento frio que agora entrava com tanta violência em minhas narinas que as feriram. Mais dor. E aquelas mãos que não esquentavam nunca? Nossa carona chegou. Prosseguimos viagem até a casa dos amigos.
O dia inteiro de comidinhas, tv a cabo, programinhas inúteis, conversas que não entendo, carinho em cachorros, saudade ¨dele¨, vontade de sair correndo e ligar o note, frio e mais frio que não acabava mais. Como dependíamos de carona, porque nenhum de nós sabia sair dali e com aquela chuva, nem pensar em se arriscar, chegamos em casa por volta de meia-noite. Todos cansados. Eu cansada e com crise de reumatismo. Num último esforço, corro para o bar-lancheria ao lado do prédio e pergunto se ainda tem quentão. Acabou. Faço uma cara de desolação. Olho ao redor, procurando algo minimamente alcoólico. Só cerveja, gelada ainda. Desisto. Vamos embora e terminar esse dia.
(Claro que cheguei em casa e, antes mesmo de pensar em trocar a roupa, liguei o note e fui procurar por ele. Mas ele não estava e nem ninguém. Só eu fico em casa num sábado à noite. Mas se estivessem no meu lugar, entenderiam, acredito. Vejo o início de meu inverno interno. Vou deitar, conjecturando sobre o inverno estar se apossando de mim. Penso se terei luz solar o suficiente contra mais um mês de dias cinzas e chuvosos. Sinto meu rosto esquentar, porque minhas bochechas vivem rosadas no rosto que vai empalidecendo. Melhor dormir. Por todo o fim de semana, se conseguir.)

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Second day. O frio de frente.

Acordei. Frio. Não tive coragem de levantar. Dormi de novo, mais agarrada ainda às cobertas, ao elefante a à aranha de pelúcia e ao cachecol de Jah. Encho a cama de objetos fofinhos para não morrer de saudade, nem de frio.
O telefone toca. Acordo, de sobressalto. Por um instante esqueço onde estou e penso em quem poderia ser. Nanossegundos. Lembro que não pode ser para mim, não conheço ninguém que não esteja em minha própria casa. Saio debaixo das cobertas e tento encarar o segundo dia com mais ânimo e disposição que o primeiro.
Banho quente no banheiro gelado. Tenso, muito tenso. E aqueles minutos intermináveis entre desligar o chuveiro, pegar a toalha, enxugar cuidadosamente todas as partezinhas do corpo, vestir a roupa, escovar os dentes (com água gelada) e depois tentar esquentar sem muito sucesso as mãos? Torturas diárias, mas ínfimas perto da dorzinha de não receber abraços de quem se espera. Sorte ter bons abraços comigo, ainda. Senão, nada teria sentido. Eu não planejei um exílio, afinal de contas.
Depois de ver que já era bem tarde para começar o dia, calço as botas e vou pra rua. Meu primeiro dia de rua. Banco, pagamentos, e o resto foi interrompido por uma garoa ameaçadora. Não ando de guarda-chuva nunca, nem na cidade da chuva da tarde, por que haveria eu de carregar um objeto desses aqui? Melhor voltar pra casa.
Retorno. Lembram-me que devia ter feito uma coisinha importante na rua. Medinho. Salva por uma alma caridosa que se compadeceu de mim e se foi, em meu lugar. Não é porque fui sozinha pra rua em meu primeiro inverno que não esteja morrendo de frio. Eles entenderam.
Olho-me no espelho. Botas marrons, combinando com o casaco marrom-lindo-de-morrer emprestado da irmã, jeans surrados, cachecol de Jah amarrado na cabeça, apanhando os cabelos (soltos) e protegendo as orelhas, mãos nos bolsos do casaco. Sorrio para mim mesma. Penso em como ele gostaria de me ver assim. Irmã tira uma foto do celular mesmo. Corro para o computador (minha principal atividade, por enquanto). Notebook no colo, pés balançando no sofá, começo a escrever.
Torço para o Sol aparecer. Para as aulas começarem. Para receber visitas queridas. Para os ossos pararem de doer. Para termos dinheiro e instalarmos aquecedores em casa. Torço por minha nova vida. E recebo as torcidas de todos também.
Assim teve início o segundo dia. E só agora vou pensar no que será o almoço. Mais um clima tenso: eu na cozinha aterrorizo qualquer um. Sorte que tenho bons aliados por aqui. E acabo de sentir um perfume de tomate e manjericão. Hora de desligar.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

First day


Não é um frio insuportável. Quase nem chega a incomodar, porque é tão bom sentir esse friozinho de novo que a emoção suplanta um pouco a dor dos dedos congelando sobre o teclado do notebook.

O que dói mesmo é a falta de abraço... Frio sem abraço é muito deprimente...

Mas tudo transcorre na mesma calma e serenidade de antes. O caos calmo. Amor livre. Quase paz. Sorrisos mais contidos, mas ainda sorrisos. Cheguei perto de feliz, acho.

E minhas asas ainda buscam forças para, depois do frio, saudarem a todos que vierem me visitar, pessoalmente ou não. Eu espero. Com segurança e um meio-sorriso, espero. Pacientemente. Enquanto o Sol, tímido, lança seus raios contra minha janela.