segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Se perguntarem, digam que sumi...

Desapareci. Sumi mesmo. Vez ou outra voltava aqui pra dar uma olhada, ver em que ponto minha vida "blogueira" havia parado e pronto, zarpava para um novo sumiço.
Posso justificar dizendo que não queria sair da casa dos "69 posts" (ui, sugestivo, não?), mas seria procurar motivos onde não há razão.
E também, pra que diabos haveria eu de me justificar? E para quem?

O que acontece é que a vida não parou. Onde parecia haver retrocesso, ela seguia. Onde parecia haver avanço, estagnava. E quando parecia marasmo, era revolução silenciosa. Sim, nada parou, nem que eu quisesse, nem que eu pudesse, nem que a roda da história fosse atravancada, ainda assim, haveria movimento. Nem que fosse pela pura inércia, mas haveria de continuar.

E por que diabos nada pode parar? Por que esse senhor faroleiro (esse tal de "Tempo") continua a se impor sobre tudo que vive? Por que os deuses não assumem as rédeas de uma vez?  Por que, por que, por que tanta impotência diante do passar dos dias, por que tanta resignação ante a força linear e inexorável das areias que caem pela ampulheta?

Acredito que quando não se quantificava o tempo, sua ditadura não se fazia sentir, ou tinha menor alcance. Quando o presente era o único tempo existente, quando não se havia noção do que viria, quando a memória tinha o caráter puramente pedagógico de não repetir os mesmos erros, quando não se planejava, não se havia contas a pagar no mês que vem, provas, bens e obrigações, o tempo era mais camarada. Mas esse tempo existiu mesmo??

No fim, o ato de desaparecer pode ser uma fuga do tempo. E fugir do tempo, nada mais é que fugir de nós mesmos, já que o tempo é apenas uma abstração a qual nos obrigamos para com o redor e para conosco. Fugir racionalmente (e planejadamente, até) do tempo não é ser irresponsável, nem adolescente reclamão: é evasão do espaço, dos outros, de si em si mesmo.

Não fazer questão de ser encontrado ou de contar o que lhe acontece aos outros é sumir de caprichos e vaidades, seja para aprimoramento, seja para instrospecção, seja para apenas adormecer. Desaparecer, aqui e daqui, acaba sendo o fim também deste (não)lugar que aqui criei: catarse necessária da alma de sua eterna necessidade de provar que existe.

Liberto-me do tempo, das provações, das necessidades vãs, da democracia dos sentimentos e do espelho arrogante e tentador. Recrio minha ilusão de liberdade e sigo, sumindo, desaparecendo, para vez ou outra, reassumir todos os compromissos e obrigações e ser mais uma no turbilhão de escravos do tempo.