terça-feira, 20 de outubro de 2009

Recesso e contemplação

O recesso textual parece imperar pelos blogs que acompanho, além de no meu. Não sei dos motivos deles e percebo um certo esforço dos outros em tentar romper essa abstinência de letras. Sei dos meus motivos, dos meus obstáculos, dos meus dias improváveis mas concretos, dos meus textos bailantes e fugidios.
Descobri projetos. Descobri obras que não mais lembrava existirem. Descobri novos saberes, novos gostos, novas frustrações e novas conquistas. Descobri, primordialmente, interesses e mudanças que até então não percebia.
Por isso, o recesso. Para análise, reflexão e contemplação. Contemplar o meu próprio dinamismo e dos que me cercam (e me fazem diferença significativa na vida); aprender a respeitar também a inércia, aceitar (não necessariamente concordar) o que me incomoda e me afastar quando me faz mal. Movimentos e silêncios também são dignos de atenção, mesmo dos mais singelos, até para pessoas impulsivas, elétrica e explosivas como eu.
Todorov, quando discursa sobre a alteridade, fala de três conceitos chaves: conhecer, amar, conquistar. Para os três, claro, há a negação ou antítese, mas cito Todorov aqui para demonstrar que estou nos dois primeiros conceitos nesse estágio de minha vivência. Identificar(-se), (des)conhecer(-se), (des)amar(-se), são verbos ativos e imperativos para mim, agora.
Porque eu vislumbrei meu passado e, nele, eu não me vi. E quando atentei para o futuro, vi-me como um outro ser que não era apenas eu, mas conjuntos de mim. Não entendi o que me restava de mim mesma no presente. E precisei parar para respirar, para não contaminar os outros com meus medos, inseguranças, desconfianças e tremores. Precisei despir-me do manto hipócrita da auto-afirmação, do destemor desmedido, do discurso mordaz e pré-julgador.
Momento de olhar para a árvore da qual me faço simples folha. O amor é a criação mais sublime da humanidade, porque não é justamente humano. E é a arma mais destruidora quando apropriada indevidamente por essa própria massa humana. Humanizar e amar não são sinônimos. Amar é muito mais caótico e muito mais mortal que qualquer invenção. E é, graças aos bons deuses (!), a única solução para a própria destruição.
E, se o que escrevo parece não fazer sentido, talvez seja porque não seja eu a única a precisar de um tempo a sós comigo mesma e o cosmos.

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