domingo, 19 de abril de 2009

Quando eu finjo, eu morro um pouco mais

Eu achei que fingia bem. Sempre me vangloriei de não gostar de mentir, mas de fazê-lo muito bem quando necessário. Se bem que mentir não é o mesmo que fingir, stricto sensu. Fingir é como revestir-se de um disfarce, usar de artífices que ultrapassam o painel simplório e vulgar da mentira. Fingir é quase um dom, mas poucos são capazes de fazer bom uso dele.
Enfim, não foi pra enaltecer as possíveis qualidades de um bom falsário que me pus a escrever. Mas sim, para denunciar minha total inaptidão de continuar a fingir diante de uma certa situação. Eu posso fingir pra adultos e mesmo crianças, para animais e nas ocasiões mais impróprias. No entanto, há um texto que me imobiliza. Um texto que esgota todas as minhas possibilidades na arte de fingir e que me deixa com cara de imbecil frente a ele.
Não é um texto importante, pelo que vejo. E nem diz nada demais, pelo que me conta o autor. Mas me incomoda de uma tal forma que não consigo sequer esquecer da sua existência. Eu leio, por curiosidade, sempre (mesmo já sabendo decorado), e aquele sentimento vai surgindo de novo, tomando conta de  mim até me deixar de orelhas vermelhas... Controlada como sou, abandono o texto lá e me entreto com outras coisas.
Em outras vezes, não é tão fácil... leio, releio, me mordo toda, enraiveço, respiro fundo e leio uma última vez, remoendo cada palavrinha. Aí penso que não é nada demais, eu mesma já recebi textos muito mais legais, bem escritos e de melhor conteúdo. Agarro-me a esses pensamentos de superioridade para esquecer o maldito texto lá no lugar dele. 
No outro dia, começo tudo de novo. E testo mais uma vez a minha incrível capacidade de fingir. O único problema é que fingir todo dia me mata um pouco... Ainda mais ter de fingir pro autor, não é nada bom... Quem sabe um dia ele se toca e pára de escrever esse tipo de baboseira. Ou quem sabe começa a fingir também e nos matamos os dois! 

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